sábado, 27 de dezembro de 2008

Psicologia rural: identidade e movimentos sociais

IDENTIDADE E MOVIMENTOS SOCIAIS

Tajfel e Turner (1979) desenvolveram a Teoria da Identidade Social, que pressupõe a existência tanto de identificação e associação do ser humano a determinados grupos, denominados grupos internos (endogrupo), como de comparações do grupo que pertença com outros grupos, chamados grupos externos (exogrupo), comum a tendência de avaliação favorável ao grupo interno. Myers (2000) afirma que a identificação grupal pode ocorrer porque:
§ O sujeito culturalmente se identifica com o grupo;
§ O sujeito pessoalmente tem uma forte identificação com o grupo;
§ Uma situação de conflito ameaça uma identidade de um grupo de status incerto e provoca identificação e coesão grupal. Esta última pode ser observada no caso de movimentos sociais que buscam acesso a terra.

As crenças e expectativas de cada indivíduo concorrem para a formação das normas e pautas de conduta dos grupos, que por sua vez, estruturam todo o seu ambiente social. A necessidade dos símbolos, ou mesmo, a mudança de comportamentos operados a partir da introdução de variáveis como a simples escolha de um de dois quadros, como o estabelecimento de metas a serem alcançadas conjuntamente ou individualmente, podem fazer diferença entre sentir-se parte de um grupo ou não. Nesses aspectos, a psicologia pode contribuir nesses aspectos pois detém bastante desses conhecimentos.
Kurt Lewin, como também Sheriff e Moscovici nos proporcionaram conhecimentos sobre a coesão grupal e os aspectos de liderança, influência de grupos minoritários sobre grupos majoritários e participação democrática. Os movimentos sociais no campo necessitam desses conhecimentos, pois frequentemente depois de passarem alguns meses ou anos acampados em situações precárias, obtêm acesso a terra. O nível de coesão grupal, nestes momentos era bastante elevado. Os objetivos eram bem comuns e o problema a ser vencido era externo. Entretanto, vencido o obstáculo, depois de algum tempo, este nível de coesão tende a enfraquecer, pois os objetivos passam agora a ser mais de metas pessoais ou familiares que de todo o grupo, gerando conflitos internos ao próprio movimento, muitas vezes enfraquecendo ou adicionando dificuldades operacionais a uma conquista realizada arduamente.
Outro problema a ser enfrentado nesse processo é o das relações entre os assentados e os seus novos vizinhos, pois essas relações são na maioria das vezes tensas e distantes, pois os assentados são vistos como intrusos e mais favorecidos que os próprios colonos residentes.
Com base no manual dos assentados e assentadas da reforma agrária (INCRA), o assentamento alcançará seu objetivo quando, além de suprir as necessidades econômicas e de infra-estrutura ele se confundir com seu entorno, mesclando-se com outros não-assentados, mas de mesma condição sócio-cultural, pois um projeto de assentamento caracteriza-se também por ser um local de trabalho e de moradia no qual se constroem a identidade social e as relações intra e intergrupais.
Diante disso, a psicologia social pode participar de forma mais ativa na investigação dos aspectos que regem as relações dos grupos componentes do ambiente rural para servir de base referencial para as intervenções governamentais e privadas. É essencial conhecer as crenças e expectativas dos indivíduos envolvidos no processo, pois essas variáveis concorrem para a formação das normas e pautas de conduta dos grupos. A intervenção de um psicólogo social em um ambiente de construção de identidade social e das relações intra e intergrupais de uma comunidade pode tornar mais eficaz o trabalho de implantação de um projeto, principalmente quando seu êxito e o processo de tomada de decisão incluem a integração grupal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário