sexta-feira, 12 de junho de 2009

Práticas Educativas Parentais

2.1. Revisão da Literatura Sobre Práticas Educativas Parentais
Gomide (2006, p.7) define as práticas educativas como estratégias específicas utilizadas pelos pais em diferentes contextos visando educar, socializar e controlar o comportamento dos filhos, seja no ambiente intra ou extra-familiar. Para ela, os pais ou responsáveis usam uma combinação de estratégias variando de acordo com a situação.
Estas práticas educativas parentais segundo Gomide (2006, p. 8), podem desenvolver tanto comportamentos pró-sociais quanto anti-sociais, dependendo da freqüência e intensidade com que os pais as utilizam. E para o resultado do uso desse conjunto de práticas educativas parentais a autora denomina estilo parental.
Como vimos acima, um dos objetivos das práticas educativas é a socialização do indivíduo. Para Newcombe (1999, p.338) o conceito de socialização também tem um grande peso em qualquer discussão sobre o desenvolvimento social e da personalidade. Para tanto, define a socialização como “o processo através do qual as crianças adquirem comportamento, habilidades, motivações, valores, convicções e padrões que são característicos, apropriados e desejáveis em sua cultura”.
Portanto, o processo de socialização de um indivíduo está intimamente relacionado ao contexto sócio-histórico e cultural onde está inserido. Newcombe (1999, p.338) afirma que as metas da socialização variam de acordo com a cultura. Este fato é constatado na forma como os pais eram orientados a educar os filhos até meados do século passado e como o são hoje em dia.
Sobre esta mudança de paradigmas na educação familiar, Gomide (2008, p. 9) levanta algumas características desta época onde as regras impostas no século passado, eram inquestionáveis. Os pais puniam e castigavam os filhos, como um dever e obrigação de um bom educador. Esta prática bastante comum e incentivada pela sociedade começou a ser questionada com a revolução de costumes dos anos 50.
A rigidez habitual dos costumes foi confrontada primeiramente, pela liberdade sexual e depois, pela flexibilidade das regras na educação dos filhos. Os filhos dos pais autoritários revoltaram-se contra estas práticas e trataram de fazer o contrário, passaram então a repudiar mais a punição corporal e as práticas coercitivas, adotando formas mais democráticas como o diálogo como fonte de educação como também o extremo, a permissividade (Gomide, 2008, p.9).
Içami Tiba (2002, p. 47) afirma que se estes novos pais fizerem como seus pais faziam não vai dar certo; se fizerem também o contrário, soltarem os filhos para fazerem o que bem entenderem, também não. Complementa dizendo que “fazer o oposto do modelo errado não significa fazer o que é certo”, fato muito comum em muitas famílias.
Entretanto, esta nova maneira de educar trouxe conseqüências diversas das esperadas pela sociedade moderna, não devido ao novo modelo, mas pelo fato dos pais terem aberto mão de seu importante papel de educador (Gomide, 2008, p.9), gerando conseqüências desastrosas no cenário familiar, como na sociedade em geral.
Gomide (2006, p.8) firma que as práticas educativas que podem levar ao desenvolvimento de comportamentos anti-sociais são chamadas de práticas educativas negativas, sendo seis as mais encontradas na literatura: negligência, abuso físico e psicológico, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoria negativa. Quanto às práticas educativas positivas, que colaboram para o adequado desenvolvimento pró-social da criança destacam-se a monitoria positiva e o comportamento moral.
A sociedade em que vivemos, necessita lutar para a revalorização da família; Para Kliksberg (2003, p.50), investir na família é fundamental para a prevenção da criminalidade, esta que tem gerado muitos gastos públicos e preocupação para as autoridades. Diz também que uma boa educação familiar contribui para uma sociedade melhor de se viver. O autor afirma que “os valores inculcados nas crianças na família a esse respeito, nos primeiros anos, e os exemplos de conduta observados vão influenciar consideravelmente suas decisões e condutas futuras.


2.1.1. As práticas educativas positivas
2.1.1.1. Monitoria parental positiva.
A monitoria parental positiva é definida por Gomide (2006, p.7), como um “conjunto de comportamentos parentais que envolvem atenção para a localização de seus filhos, para suas atividades e formas de adaptação”. A autora afirma que esta definição é similar à definição do dicionário em que o vocábulo monitoria significa manter a guarda ou checar como um meio de controle.
Gomide (2006, p.9) sugere que os pais devem proporcionar as crianças um conjunto de regras sobre onde devem ir, com quem podem associar-se, quando devem ir para casa e, ainda, garantir o seguimento obediente de tais regras e, além disso, ter uma ação disciplinar efetiva quando tais regras são violadas. Sendo assim, os pais devem utilizar disciplina consistente e controlar ativamente os comportamentos de seus filhos e suas companhias.
Modelos teóricos sobre as práticas parentais demonstram que a monitoria inadequada se inicia quando o comportamento inadequado aparece na infância e, se os pais não forem orientados, este déficit em supervisão conduzirá o adolescente à associação a pares desviantes, resultando em provável desenvolvimento de comportamento anti-social (Gomide, 2006, p.8).
Para Gomide (2006, p.8) o controle parental descreve tanto os comportamentos parentais quanto os estilos parentais. Para a autora, o controle está relacionado com exigências e expectativas de maturidade impostas pelos pais, através de confrontações diretas, supervisão e disciplina consistente.
Os pesquisadores Fletcher, Darling e Steinberg (1995, p.262) apontados por Gomide (2006, p. 10) têm utilizado como medidas de controle parental, perguntas sobre o conhecimento dos pais das atividades de seus filhos, como: Quanto seus pais realmente sabem sobre quem são seus amigos? Onde você vai à noite? Com o que você gasta seu dinheiro? O que você faz no seu tempo livre? Onde você está nas tardes depois da aula?
Gomide (2006, p.10) explica que os pais deveriam ter conhecimento da vida de seus filhos de três maneiras. Primeiramente, os filhos falando e contando espontaneamente aos pais, sem qualquer persuasão. A segunda forma seria os pais obtendo informações de seus filhos e de seus amigos através de solicitações, ou seja, interrogando os mesmos para que falem abertamente suas intenções. Por último, os pais deveriam impor regras e restrições sobre as atividades dos filhos e sobre as suas companhias, controlando assim a quantidade de liberdade que a criança tem para fazer coisas sem contar aos pais.
A partir dessa afirmativa, é importante observar que os canais de comunicação parental devem estar abertos para que a relação entre pais e filhos esteja embasada no respeito, afeto e confiança mútua, permitindo que o filho não tenha receio de compartilhar de sua vida com os pais, sem o medo de ouvir um não, e sem precisar adular os mesmos para obter um sim (Gomide, 2006, p.11).
O apego, ou a falta de apego também tem sido mostrado como uma das medidas preditoras de delinqüência que pode ser uma variável motivando a criança a contar aos pais sobre sua vida e também prevenindo o envolvimento em problemas (Gomide, 2006, p.12). Quando mais sentirem-se aceitas e seguras na família, menores serão as chances da criança apresentar comportamento delinqüente na adolescência.
Sendo assim, mais benéfico que a vigilância e controle tem sido a comunicação parental. Estudos testaram se os apegos aos pais diminuíam o risco da delinqüência, indicaram que delinqüentes tinham comunicação pobre com seus pais, falta de intimidade com eles, não gozavam de aceitação, respeito e de comunicação sobre planos futuros; também tinham pouca supervisão e controle parental (Gomide, 2006, p.11).
Helen Bee (1996, p.373) afirma que a afeição e o carinho dos pais aumentam a força daquilo que eles dizem para a criança, e a eficiência de sua disciplina, pois o carinho torna as crianças mais responsivas e solícitas à orientação, evitando o desgaste na relação familiar.
Segundo Gomide (2006, p. 12) o apoio e o amor dos pais são a base da monitoria positiva, e que, unida ao interesse real da criança, cria um ambiente propício para a revelação infantil e afasta a necessidade da fiscalização estressante por parte dos pais.
Os pais precisam saber distinguir entre mostrar interesse pelos filhos e fiscalizar. Gomide (2008, p. 58) afirma que interrogar sobre o dia de seu filho na escola ou sobre a festa na noite anterior não é mostrar interesse, pois mostrar interesse é se mostrar disponível para ouvir o que o filho gostaria de relatar, compartilhando suas conquistas ou problemas e estar disponível para auxiliar e apoiar quando as dificuldades surgirem.
Gomide (2008, p.58) defende que este estilo de educar é determinante para se evitar problemas futuros, porque o acompanhamento e interesse positivo e genuíno dos pais reforçam a idéia de que ela é amada, que representa o primeiro passo para a formação de uma pessoa segura; outro benefício é que a criança aprende que não precisam fazer coisas erradas para chamar atenção dos pais, além de estabelecer uma relação de confiança.
Os estudos sobre a monitoria parental, citados por Gomide (2006, p.12), relacionaram a monitoria a baixos índices de delinqüência, hábitos de fumar, uso de drogas e de desenvolvimento de comportamentos infratores, enquanto os altos índices de revelação por parte do jovem foram relacionados com baixos níveis de comportamentos infratores, independentemente da solicitação e do controle parental, diagnosticou-se que quanto mais os pais perguntam sobre as atividades de seus filhos, mais estes apresentam comportamentos infratores.

2.1.1.2. Comportamento moral
O comportamento moral foi definido por Gomide (2001, p.13) como o processo de modelagem de papéis na identificação e nas interações humanas, no que se refere principalmente a normas e valores transmitidos através do modelo parental.
Dessa forma, essa prática educativa está ligada aos comportamentos morais transmitidos aos filhos pelos pais, através de seus próprios comportamentos, diálogos, etc., referentes a temas como justiça, honestidade, generosidade, compaixão, empatia entre outros (Gomide, 2006, p.13). O estudo dessa prática procura investigar qual o efeito da transmissão destes valores para a inibição do comportamento anti-social.
A literatura aponta para alguns componentes essenciais para a existência do comportamento moral, sendo eles: Sentimento de culpa, vergonha, empatia, atitudes honestas e generosas, crenças positivas sobre o trabalho e ausência de práticas anti-sociais. Todos esses componentes vem sendo desenvolvidos através das relações da criança com o ambiente, onde os pais podem ser os melhores mediadores para favorecer a discriminação e a aquisição de repertório moral (Gomide, 2006, p.13).
Gomide (2006, p.13) ressalta a importância dos pais refletirem junto com as crianças sobre seus comportamentos ensinando-as a se colocar no lugar dos outros e propiciando situações para que ela repare seus atos no intuito de promover reflexão, desenvolver empatia e em conseqüência, o comportamento moral.


2.1.2. Práticas educativas negativas
2.1.2.1. Negligência
A negligência tem sido apontada como uma das práticas que mais tem prejudicado o desenvolvimento de crianças e adolescentes, colocando-os na situação de risco, e está muito associada à história de vida de usuários de álcool e outras drogas e de adolescentes com comportamento infrator (Gomide, 2008, p.69).
Ela foi definida por Gomide (2008, p.69) como a prática parental que remete a ausência de supervisão e interesse dos pais em relação à vida de seu filho. Nesses casos os pais agem como expectadores e não participantes da educação, sendo que essa situação pode se caracterizar por falta de atenção, descaso, omissão e até mesmo falta de amor.
Os pais negligentes ignoram a maioria dos comportamentos da criança e respondem muito pouco às iniciativas de comunicação dos filhos. As crianças que em geral são muito passivas na infância sofrem com déficits comportamentais (Gomide, 2006, p.28).
Estudos realizados com jovens integrantes de galeras da periferia dos municípios de Brasília constataram que o não envolvimento dos pais, reflete em um sentimento de desamparo e despreparo para enfrentar os problemas dessa nossa sociedade, ao mesmo tempo excludente e em mudança, que não lhes oferece opções de protagonismo (Abramouay, 2002, p.104).
Fatores como falta de coesão familiar e falta de envolvimento da família em atividades sociais podem envolver três práticas parentais que podem levar ao medo social: preocupação dos pais em relação à opinião dos outros, isolamento da criança por parte dos pais e falta de sociabilidade familiar (Gomide, 2006, p.29).
A falta de calor emocional, característicos da prática negligente e a superproteção também estão associados com o desenvolvimento de ansiedade social. O primeiro se caracteriza pela não aceitação, e pela indisponibilidade de atenção dos pais, o que leva a uma diminuição da auto-estima e a um aumento da ansiedade social. O segundo se dá quando os pais impedem o desenvolvimento da autonomia de seus filhos ou isolam os mesmos de experiências ambientais. Estudos demonstraram que fóbicos sociais consideram seus pais como superprotetores e faltosos de calor emocional (Gomide, 2006, p.29).
Abramouay (2002, p.104), ao tratar sobre o desenvolvimento de sociopatas, afirma que as mães autoritárias, que não prestam atenção à personalidade do filho, provocariam neste a rejeição posterior à sociedade. Ou seja, eles transferem a mesma rejeição e descaso às normas sociais. Comparando fóbicos sociais com agorafóbicos, os primeiros alegam que suas mães evitavam com maior freqüência situações sociais.
De acordo com Gomide (2006, p.29), a ligação entre a carência afetiva e o crime está baseada na preposição de que a carência prejudica fortemente a capacidade de constituir relações afetivas com os outros. E isso leva ao desenvolvimento de comportamento infrator futuro, ou seja, o jovem que viveu em ambiente com carência ou ausência de relações afetivas consistentes poderá prejudicar o outro, sem remorsos.
Para Gomide (2006, p. 30) a vítima potencial é o indivíduo que representa o algoz do adolescente ou que, simplesmente, nada significa. Isso porque os vínculos afetivos que sequer foram desenvolvidos com os pais não poderão, portanto, ser generalizados para estranhos.

2.1.2.2. Punição Inconsistente
A punição inconsistente ocorre quando os pais punem ou reforçam os comportamentos de seus filhos de acordo com o seu bom humor, de forma incontigente ao comportamento da criança, ou seja, o estado emocional dos pais que determina as práticas educativas da criança e não as atitudes erradas da criança (Gomide, 2006, p.30).
Como conseqüência a criança aprende a discriminar o humor dos pais e não do ato praticado, se bom ou ruim, se adequado ou inadequado. Gomide (2006, p.31) afirma que ela passa então a agir de formas a evitar o aborrecimento dos pais, fugindo e se esquivando de casa, e neste caminhada fica mais fácil a associação a grupos desviantes.
De acordo com Helen Bee (1996, p.375) a punição mais efetiva, aquela que produz mudanças a longo prazo no comportamento da criança sem efeitos colaterais indesejados ou negativos é aquela aplicada no início de alguma seqüência de mau comportamento, com nível mais baixo de emoção possível e o nível mais brando de punição possível.
Assim, a punição deve ocorre logo após a criança apresentar um mau comportamento, para que haja a compreensão de que a punição não se deve a uma atitude pessoal, mas sim, ao comportamento de não deve ser mantido. Tudo isso irá ter melhor efeito se o progenitor também for carinhoso, claro a respeitos das regras, e consistente (Bee, 1996, p.375).
A consistência das regras é fundamental para que haja essa relação, deixar claro para a criança quais são as regras, quais são as conseqüências de desobedecê-las, ou obedecê-las, e depois fazer cumprir as regras de maneira consistente. Alguns pais são claros e consistentes; outros se perdem em discussões ou são vagos em relação ao que é esperado ou tolerado (Gomide, p. 30, 2006).
Estudos sobre famílias mostram que os pais que são claros e consistentes têm filhos menos desafiadores ou desobedientes (Bee, 1996, p.376), também são mais consistentes e seguras de si mesmas e menos agressivas.

2.1.2.3. Monitoria Negativa
Em oposição a monitoria positiva, a monitoria negativa refere-se as tentativas de controle que inibem ou interferem no desenvolvimento de independência e auto-direcionamento da criança pelo fato de manter uma dependência emocional dos pais (Gomide, 2008, p.23).
Para Gomide (2006, p.24), a monitoria negativa, também chamada de supervisão estressante, caracteriza-se por fiscalização e ordens excessivas dadas aos filhos que, em sua maioria, não são obedecidas e que geram uma relação pais-filhos baseada em hostilidade, insegurança e dissimulações. Os filhos podem fazer uso de comportamentos agressivos para proteger dos pais sua privacidade.
Os filhos ficam irritados e se sentem prejudicados pela falta de confiança dos pais, e os pais geralmente mostram-se ansiosos e frustrados com a tarefa educativa. Os pais que fazem este tipo de supervisão estressante não estabelecem regras, mas sim ficam repetindo ordens (Gomide, 2008, p.44).
Gomide (2006, p.24) afirma que reconhecer que este tipo de prática e as situações conflituosas que ela causa, é o primeiro passo para mudanças; depois entender que este tipo de disciplina não traz bons resultados, não ensina regras e prejudica a comunicação na família, e em alguns casos, os pais devem buscar ajuda profissional.

2.1.2.4. Disciplina Relaxada
A disciplina relaxada é caracterizada por Gomide (2006, p.21), pelo não cumprimento de regras estabelecidas. Os pais estabelecem regras, ameaçam e, quando se confrontam com comportamentos opositores e agressivos dos filhos, abrem mão de seu papel educativo, se omitem não fazendo valer as regras.
De acordo com Içami Tiba (2002, p.47) a atitude omissa dos pais permite a criança fazer tudo o que quiser, ou a exploração diante de qualquer deslize do filho, além de não educar, distorcem a personalidade infantil, tornando a criança sem limites ou reprimida. No futuro ela poderá se revoltar quando for contrariada ou tiver força suficiente para se rebelar contra o opressor.
Para Tiba (2002, p.47), a criança ou adolescente desobedece por falta de hábito, por perceber insegurança e inconsistência dos pais no estabelecimento de regras, pois quando estas existem, são muito variáveis, fazendo com que não se possa esperar um comportamento adequado destes.
Tiba (2002, p.224) nos alerta que “a incoerência, a insegurança e a inconstância são venenos mortais para a boa educação. Dão margem a que as crianças não assumam as responsabilidades e queiram impor suas vontades independentemente de conseqüências ou danos produzidos a terceiros”.
A mais recente revisão do DSM-IV afirma que o comportamento opositor e desafiador durante a infância é um antecedente do desenvolvimento de condutas de desordem durante a adolescência. Isso é confirmado através de uma variedade de estudos longitudinais mostrando que a criança que é agressiva e desobediente durante o início da escolaridade está sob o risco de séria delinqüência durante a adolescência (Gomide, 2006, p.21).
Falhas por parte dos pais em estabelecer práticas de disciplina e monitoria podem levar ao comportamento anti-social, assim como a disciplina severa. As conseqüências de uma precária monitoria mais encontradas na literatura estão: baixa freqüência de uso de preservativos ou outro contraceptivo em relações sexuais, multiplicidade de parceiros sexuais, uso de maconha e álcool, experiência de ter sido preso e maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis (Gomide, 2006, p.23).

2.1.2.5. Abuso físico
Gomide (2006, p. 17), faz uma distinção entre punição corporal e abuso físico. A punição corporal seria o uso de uma força física com a intenção de fazer a criança sentir dor, mas não ser machucada, como propósito de corrigir ou controlar o comportamento da mesma; Já o abuso físico é o resultado potencial da punição corporal, caracterizado pelo socar, espancar, chutar, morder, queimar, sacudir ou por simplesmente machucar a criança.
A punição corporal e o abuso físico de acordo com Gomide (2006, 17), são dois pontos em contínuo, sendo que, quando a punição é administrada de forma muito severa, freqüentemente ela atravessa a linha para o abuso físico. Pais abusivos relembram que começaram com punição corporal instrumental.
No aspecto psíquico e social, as crianças podem apresentar baixa auto-estima, problemas de comportamento e incapacidade de fazer amigos. Pesquisas demonstram que crianças e adolescentes com baixa auto-estima procuram as drogas e grupos delinqüentes, onde mediante comportamentos anti-sociais, infracionais e proibidos consegue a aprovação dos companheiros e melhorar sua auto-estima (Gomide, 2008, 34).
Gomide (2006, p.19) descreve um estudo longitudinal onde pesquisadores acompanharam sujeitos dos oito aos trinta anos, concluíram que crianças rejeitadas que não se identificaram com os pais e foram severamente punidas aprenderam a usar a agressão como alternativa para se expressar e quanto mais severamente as meninas eram punidas, mais abusivas com seus filhos se tornavam. Estes dados apóiam a hipótese da transmissão intergeracional da violência.
Outros estudos enfatizam que nem todas as crianças expostas a fatores disfuncionais tornam-se crianças anti-sociais. Gomide (2006, p.20), estudaram 942 crianças do nascimento aos 15 anos e identificaram que algumas cresceram em lares com sérios problemas disfuncionais, mas, no entanto, não exibiram problemas comportamentais na adolescência.
A explicação possível encontrada para este foi: a) a criança resiliente ser exposta a vários fatores protetores; b) a criança expressa outros problemas como atividade sexual precoce, uso de drogas, desordem de conduta, contato policial, não medido neste estudo. Também relataram que a prática parental violenta está diretamente relacionada com várias síndromes infantil, como distúrbios psiquiátricos que podem levar ao comportamento criminoso mais tarde (Gomide, 2006, p.20).


REFERÊNCIAS
Abramouay, Miriam (2002). Gangues, galeras e rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. Rio de Janeiro: Garamond.
Bee, Hellen (1996). A criança em desenvolvimento (2. ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Gomide, Paula Inês Cunha (2008). Pais presentes, pais ausentes. Petrópolis: Vozes.
Gomide, Paula Inês Cunha (2008). Inventário de estilos parentais. Petrópolis: Vozes.
Kliksberg, Bernardo (2003). Falácias e mitos do desenvolvimento social (2.ed.) São Paulo: Cortez.
Newcombe, Nora (1999). Desenvolvimento infantil: abordagem de Mussem. (8.ed.). Porto Alegre: Artes médicas.
Tiba, Içami (2002). Quem ama, educa. São Paulo: Editora Gente.

PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI

Conheça as 10 razões da Psicologia contra a redução da maioridade penal:


1. A adolescência é uma das fases do desenvolvimento dos indivíduos e, por ser um período de grandes transformações, deve ser pensada pela perspectiva educativa. O desafio da sociedade é educar seus jovens, permitindo um desenvolvimento adequado tanto do ponto de vista emocional e social quanto físico;
2. É urgente garantir o tempo social de infância e juventude, com escola de qualidade, visando condições aos jovens para o exercício e vivência de cidadania, que permitirão a construção dos papéis sociais para a constituição da própria sociedade;
3. A adolescência é momento de passagem da infância para a vida adulta. A inserção do jovem no mundo adulto prevê, em nossa sociedade, ações que assegurem este ingresso, de modo a oferecer – lhe as condições sociais e legais, bem como as capacidades educacionais e emocionais necessárias. É preciso garantir essas condições para todos os adolescentes;
4. A adolescência é momento importante na construção de um projeto de vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para esta fase deve ser guiada pela perspectiva de orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação e, sim, pela orientação escolar e profissional ao longo da vida no sistema de educação e trabalho;
5. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) propõe responsabilização do adolescente que comete ato infracional com aplicação de medidas socioeducativas. O ECA não propõe impunidade. É adequado, do ponto de vista da Psicologia, uma sociedade buscar corrigir a conduta dos seus cidadãos a partir de uma perspectiva educacional, principalmente em se tratando de adolescentes;
6. O critério de fixação da maioridade penal é social, cultural e político, sendo expressão da forma como uma sociedade lida com os conflitos e questões que caracterizam a juventude; implica a eleição de uma lógica que pode ser repressiva ou educativa. Os psicólogos sabem que a repressão não é uma forma adequada de conduta para a constituição de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal reduz a igualdade social e não a violência - ameaça, não previne, e punição não corrige;
7. As decisões da sociedade, em todos os âmbitos, não devem jamais desviar a atenção, daqueles que nela vivem, das causas reais de seus problemas. Uma das causas da violência está na imensa desigualdade social e, conseqüentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidos alguns cidadãos. O debate sobre a redução da maioridade penal é um recorte dos problemas sociais brasileiros que reduz e simplifica a questão;
8. A violência não é solucionada pela culpabilização e pela punição, antes pela ação nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que a produzem. Agir punindo e sem se preocupar em revelar os mecanismos produtores e mantenedores de violência tem como um de seus efeitos principais aumentar a violência;
9. Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, não a causa. É encarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro destino ou possibilidade;
10. Reduzir a maioridade penal isenta o Estado do compromisso com a construção de políticas educativas e de atenção para com a juventude. Nossa posição é de reforço a políticas públicas que tenham uma adolescência sadia como meta.

QUESTÕES NO FILME "O MEDO DA VERDADE"

O filme “O medo da Verdade” apresenta duas cenas com dilemas difíceis de resolver.


MORTE DO PEDÓFILO:

A primeira é a cena em que o Detetive Patrick Kenzie entra no quarto do pedófilo, encontra o corpo do garoto desaparecido, fica enojado com a cena e revoltado com o crime bárbaro, atira para matar na cabeça no pedófilo. A questão é: foi a atitude correta a fazer? Teria ele o direito de tirar a vida de alguém, mesmo sendo um criminoso?
Pela versão jurídica, acredito que não deveria, já que o criminoso estava desarmado e não oferecia perigo para a vida do jovem detetivo, e poderia ser detido, passar por um julgamento no tribunal e pagar por seu delito na prisão como muitos outros. No entanto, pela moral, acredito que ele agiu corretamente ao fazer justiça no próprio local, já que por muito tempo, antes de haver uma legislação para crimes desta categoria, era justo proceder desta forma, eliminando de vez um criminoso que comete atrocidades com crianças indefesas.
Acredito que a reação da maioria das pessoas seria esta, mas no final, muitos estariam se perguntando se havia tomado atitude correta ou não. Acredito que a influência de seus princípios cristão estava pesando bastante, sobre matar. Ele se culpava por ter pecado ao tirar a vida de uma pessoa, no entanto, a própria Bíblia no Antigo Testamento apoiava atitudes como a que ele havia tomado.

ENTREGAR O POLICIAL:

Esse filme nesta cena logo no final, nos mostra duas formas de agir, duas atitudes a ser tomadas, uma moral outra jurídica. A moral nos diz para dar uma vida melhor a Amanda McCready, mas a juridicidade diz-nos para devolvê-la à mãe, á sua família de origem. Na verdade, esse filme retrata uma luta, entre a moral e o direito, que nem sempre significa justiça, e ainda entre fazer o que é certo ou fazer o que é melhor para a criança.
A justiça pode se sobrepor à esperança de uma vida melhor. Foi um filme muito polêmico, também me sentiria da mesma forma. Por um lado, a justiça, por outro, a emoção, e diante de todos os acontecimentos, mentiras e dissimulações, a justiça falou mais alto, e Patrick estava praticamente decidido sobre o que fazer ao encontrar a menina, devolver à sua família.
Muito foi questionado sobre sua inexperiência, sobre a pouca idade, e a melhor decisão a fazer. Acredito que isto também influenciou suas escolhas, sua visão de justiça, do certo e errado, enquanto que os outros detetives, descrentes na justiça, fizeram suas escolhas com base no jargão popular: Os fins justificam os meios, ou seja, o bem-estar da criança, seu futuro e melhores perspectivas de vida, comparado ao que sua mãe, viciada em drogas, prostituta e negligente principalmente com a filha, poderia lhe oferecer. Os meios neste caso, foram extremos, pessoas morreram, muito sofrimento e comoção geral na população, tudo por conta de dinheiro e revolta contra a pessoa da mãe.

CONFRONTAÇÃO E CRÍTICA CONSTRUTIVA

A) CONFRONTAÇÃO: A confrontação é uma forma de comunicação, embora muitos vejam como algo negativo ela pode levar a uma solução mútua. Parte da resolução bem-sucedida de um problema é reconhecer quando e porque uma confrontação pode ser utilizada.

COMO USAR UMA CONFRONTAÇÃO? Expresse sentimentos construtivamente, evitando atacar o caráter da pessoa ou sua personalidade. Pense nas conseqüências; entenda – deixar que a pessoa expresse os sentimentos sem ser crítico; Seja empático; Seja cauteloso e Avance gradualmente – não começar com acusações e críticas.

O QUE SE DEVE FAZER NÃO SE DEVE FAZER
• Transmita que você valoriza seu relacionamento com a pessoa;
• Vá devagar e pense sobre o que comunicar;
• Tente entender a posição da outra pessoa;
• Escute cuidadosamente o que o outro quer lhe dizer;
• Não comunique a solução; focalize no problema. Freqüentemente estamos muito ansiosos para dizer ao outro o que fazer, em vez de deixá-lo resolver.
• Não interrompa a comunicação, mesmo que não esteja indo como você planejou;
• Não afronte; uma confrontação não é uma competição, a idéia não é vencê-la mas resolver o problema juntos.
• Não conte com indícios não verbais. Seja direto e franco ao comunicar-se.

* APLICAÇÃO: FÓRMULA DESC – TREINAMENTO EM POSITIVIDADE

DESC: Descrever, expressar, especificar, conseqüências.
1º) Descrever: “Quando você critica meu desempenho na frente de outros companheiros...”
2º) Expressar os sentimentos: “Fico com raiva e frustrado...”
3º) Especificar as mudanças que deseja que ocorra: “Gostaria que você não falasse mais pelas minhas costas”;
4º) Conseqüências caso a resposta não seja aceita: Se você não me deixar em paz, vou pedir que o técnico se reúna conosco para esclarecer isso”.


B) CRÍTICA CONSTRUTIVA – ABORDAGEM SANDUÍCHE

Abordagem sanduíche é uma técnica de oferecer feedback construtivo de maneira sensível e efetiva. Consta de 3 elementos:
1º) Uma declaração positiva (de abertura);
2º) Instruções orientadas para o futuro (aspecto chave da técnica);
3º) Um cumprimento.

Exemplo completo de aplicação: Coloque na ordem as frases de acordo com a técnica sanduíche.

Max não pega um passe do zagueiro que teria sido um gol certo.
( 2 ) Da próxima vez, olhe bem a bola, espere o momento certo para correr.
( 1 ) Tudo bem Max. Foi uma boa jogada ensaiada.
( 3 ) Você está no caminho certo”.

Tratamento Farmacológico para Pacientes Viciados em Drogas de Abuso

1. INTRODUÇÃO


O presente trabalho de pesquisa foi realizado com o objetivo de apresentar algumas das cinco drogas de abuso mais consumidas no mundo todo e as intervenções farmacológicas para o tratamento dos sinais e sintomas da abstinência e a dependência.
Entre as drogas citadas neste trabalho, estaremos tratando de drogas consideradas lícitas como o álcool e a nicotina, que são comercializadas livremente, como também aquelas consideradas ilícitas, comercializadas ilegalmente como a heroína, a cocaína e a fenciclidina (PCP).
O tratamento para a síndrome de dependência deve ter característica multidisciplinar e as principais formas de atuação podem ser agrupadas de diversas modalidades: aconselhamento, psicoterapia individual, psicoterapia em grupo, prevenção de recaída, treinamento de habilidades sociais e tratamento familiar.
Os aspectos a serem considerados para a utilização dos medicamentos na dependência são o efeito potencial (diminuir o consumo, reduzir o desejo pela droga) e as considerações de segurança. Outra indicação comum é reduzir os sintomas de abstinência quando da interrupção da droga, pois quando não controlados levam o indivíduo ao vício.
Os agentes farmacológicos utilizados no tratamento das dependências são: medicamentos para quadros de intoxicação; medicamentos para abstinência que revertem ou atenuam sintomas físicos e psíquicos imediatos à abstinência; medicamentos para controle da compulsão, reduzindo o impacto para buscar e consumir a droga e medicamentos para controle de condições psiquiátricas co-mórbidas.












2. DROGAS DE ABUSO


2.1. Álcool

O álcool é a droga mais consumida no Brasil. Em pequenas doses proporciona a sensação de bem-estar, relaxamento, desinibição e leve euforia, mas em maiores quantidades pode causar confusão mental, sono, diminuição do reflexo, podendo fazer a pessoa perder o controle, o que aumenta os riscos de fazer sexo sem proteção e sofrer ou provocar acidentes e violência.
Os consumidores do álcool além da tolerância, desenvolvem também a dependência física. A síndrome de abstinência são experimentados com freqüência, mas geralmente não são graves ou fatais até que estejam associados a outros problemas como infecção, traumatismo, desnutrição ou distúrbio eletrólito, tornando provável a síndrome do delírio tremens.
A desintoxicação se refere a retirar o álcool do organismo e ao reajuste de todos os sistemas para o funcionamento sem o álcool. A síndrome de abstinência do álcool do tipo leve pode incluir somente cefaléia e irritabilidade, mas cerca de 5% dos pacientes alcoólicos tem sintomas de abstinência graves, que pode manifestar tremores, taquicardia, transpiração e até mesmo convulsões.
As principais formas de tratamento para o alcoolismo tem sido os grupos de auto-ajuda/ Apoio, como os Alcoólicos Anônimos ou tratamentos psicossociais em pacientes internados, ou programas de reabilitação em pacientes não-internados. A farmacoterapia tem sido feita diretamente para indicações específicas que ocorrem durante o tratamento: desintoxicações alcoólicas, agentes de dessensibilização, agentes contra o desejo de beber e agentes para diminuir a bebida através do tratamento de transtornos psíquicos associados.










2.1.1. Tratamento Farmacológico

a) Benzodiazepínicos: são os agentes farmacoterapêuticos para prevenção e o tratamento dos sinais e sintomas de abstinência do álcool. Um regime típico inclui:
• Consultas diárias por 5 a 10 dias para avaliações clínicas, múltiplas vitaminas e farmacoterapia com benzodiazepínicos;
• Uso de benzodiazepínicos de longa ação: Clonazepan, Clordiazepóxido ou Diazepam;
• Dosagem medicamentosa suficiente no primeiro dia de tratamento para aliviar os sintomas da abstinência. As doses devem ser ajustadas se os sintomas de abstinência aumentarem ou se o paciente reclamar de sedação excessiva;
• Dose inicial de 25-50 mg de Clordiazepóxido ou 10 mg de Diazepam administrados de 6/6 horas;
Os benzodiazepínicos geralmente são suficientes para acalmar pacientes agitados, porém, alguns pacientes podem necessitar de barbitúricos por via endovenosa para controlar uma agitação extrema.
b) Dissulfiram: É mais eficaz quando é utilizado em um ambiente clínico que enfatiza a abstinência e ofereça um mecanismo que assegure que a medicação seja tomada. A adesão a droga pode ser bem-sucedida dando-lhe a medicação em intervalos de 3 a 4 dias no consultório do médico, ou no centro de tratamento, ou fazendo com que o membro da família administre o medicamento. O dissulfiram inibe uma enzima-chave, a aldeído desidrogenase, envolvida na quebra do álcool etílico. Após beber, a reação álcool-dissulfiram produz um aumento da taxa de acetoaldeído no sangue, que é tóxico e produz enrubecimento facial, taquicardia, hipotensão, náusea e vômitos e desconforto físico. A dose usual de dissulfiram é de 250 mg/dia.
c) Antagonista Opioíde Naltrexona: Bloqueia alguma das propriedades reforçadoras do álcool, e parece diminuir significativamente as taxas de recaída nos pacientes em abstinência que provam álcool. Estudos clínicos indicam que o Acamprosato é uma medicação potencialmente útil.
d) Anticonvulsivantes: carbamazepina e fenobarbital.





2.2. Cocaína

A cocaína, ou éster do ácido benzóico é uma droga alcalóide, derivada do arbusto Erythroxylum coca Lamarck, estimulante com alto poder de causar dependência.. Seu uso continuado, pode levar a dependência, hipertensão arterial e distúrbios psiquiátricos. A produção da droga é realizada através de extração, utilizando como solventes álcalis, ácido sulfúrico, querosene e outros.
Entre as principais conseqüências do uso abusivo desta droga está a redução da libido sexual e queixa de problemas sexuais; Distúrbios psiquiátricos incluindo ansiedade, depressão e psicose também são freqüentes entre os dependentes que solicitam tratamento, embora alguns destes distúrbios já existirem antes do uso da droga, muitos podem desenvolvê-los no transcurso do uso abusivo das drogas (Goodman e Gilman, 2003, p.476).
Os sintomas da abstinência geralmente são brandos, e o tratamento dos sinais e sintomas da síndrome de abstinência costuma ser dispensado. O problema de acordo com Goodman e Gilman (2003, p.476) não é a desintoxicação, mas ajudar o paciente a resistir ao desejo compulsivo de voltar a usar a droga. O momento, o tratamento preferido para a dependência ainda é comportamental, como Programas de reabilitação com psicoterapia individual e em grupo como dos Alcoólicos Anônimos e Terapias Comportamentais baseados em testes urinários livres de cocaína como reforço, com indicação de fármacos para distúrbios específicos coexistentes como a depressão.

2.2.1. Intervenções farmacológica

a) Diazepam ou haloperidol são preferíveis para o tratamento da agitação, mas pode haver necessidade de contenção física. Diazepam, 5-10 mg EV, injetado em velocidade não superior a 5 mg/minuto, pode ser usado para tratar as convulsões. Devem ser tomadas precauções para proteger as vias aéreas do paciente e haver equipamento para ressuscitação disponível no caso do diazepam causar depressão ou parada respiratória.
b) Alguns médicos defendem o tratamento de hiperatividade do sistema nervoso simpático com propranolol, 1 mg EV, injetado lentamente a cada minuto até um total de 8 mg; contudo, betabloqueadores, como o propranolol, devem ser usados com precaução, devido à possibilidade de agravamento da hipertensão.
c) Na ausência de taquiarritmias hemodinamicamente significativas, outros agentes terapêuticos, como sedação, nitroprussiato ou fentolamina, podem ser usados para controlar taquicardia e hipertensão.
2.3. Nicotina

A nicotina é uma das substâncias que causam maior dependência. O tabaco ainda contém monóxido de carbono e alcatrão que são intoxicantes. Seu consumo aumenta os riscos de infarto, derrame cerebral, úlcera, impotência, aborto e nascimento prematuro, e é responsável por 200 mil mortes por ano no Brasil.
A síndrome da abstinência pode incluir: irritabilidade, impaciência, hostilidade, ansiedade, humor disfórico ou deprimido, dificuldade de concentração, agitação, redução da freqüência cardíaca, aumento do apetite e ganho de peso.

2.3. 1. Tratamento farmacológico

A farmacoterapia sob a forma de reposição de nicotina tem sido um elemento primordial na redução dos sintomas de abstinência e na iniciação da interrupção do fumo.
a) A goma de mascar de nicotina polacrilex é prescrita de forma que os pacientes tenham livre acesso a ela por até 4 meses; Estudos confirmam que o chiclete reduz a irritabilidade e os sintomas de abstinência, como distúrbios do sono, dificuldade de concentração e inquietação.
b) A nicotina transdérmica é inicialmente administrada em adesivos cutâneos de 15 a 21 mg, por 4-12 horas, seguido de adesivos de doses menores por até outras 8 semanas; o uso deste pode reduzir a gravidade dos sintomas de abstinência e também o desejo pelo tabaco.
c) O Spray nasal e o inalante são duas preparações novas que fornecem uma liberação rápida da nicotina. A vantagem potencial dessas preparações de liberação rápida é que elas simulam de maneira quase igual o ato de fumar. Os resultados são semelhantes aos do chiclete e do adesivo.
d) A substituição da nicotina combinada com uma terapia de modificação do comportamental é muito eficaz no alívio dos sintomas de abstinência da nicotina e no início da interrupção do fumo.
e) A bupropiona, um antidepressor monocíclico que tem efeitos serotoninérgicos, naradrenérgicos e dopaminérgicos, foi aprovada pela FDA como um agente farmacológico para a interrupção do fumo.




2.4. Opióides (heroína)
A heroína é uma droga do grupo dos opióides, também conhecidos como analgésicos narcóticos. Outros opióides como o ópio, a codeína e a morfina são substâncias naturalmente extraídas da papoula. A heroína é derivada da morfina e codeína.
A heroína é uma substância depressora do Sistema Nervoso Central sendo capaz de alterar as sensações de prazer e dor. Na sua forma pura, é encontrada como um pó branco facilmente solúvel em água. Além disso, uma pessoa que começa a usar heroína pode rapidamente desenvolver tolerância e precisa cada vez de maior quantidade da droga para obter o mesmo efeito.
A dependência da heroína ou de outros opióides de ação curta provoca anormalidades comportamentais e geralmente se torna incompatível com a vida produtiva. O primeiro estágio do tratamento enfatiza a dependência física e consiste na desintoxicação.
Um dos principais prejuízos causados pela heroína é a dependência física e psicológica. A dependência física ocorre quando o corpo se adapta a presença da droga e dependência psicológica é caracterizada pela compulsão pela droga. Nestes dois casos, vai haver uso cada vez mais freqüente e de quantidades cada vez maiores da droga. Quando o usuário interrompe o uso da heroína, desenvolvem-se sintomas de abstinência como: diarréia, náuseas, vômitos, câimbras, dor muscular e óssea, lacrimejamento, perda de apetite, secreção nasal, bocejos, tremores, pânico, insônia, desânimo, movimentos involuntários de pernas, agitação e transpiração. A maioria desses sintomas começa entre 24 a 48 horas após o uso da última dose e diminuem após uma semana. No entanto, algumas pessoas permanecem com esses sintomas por vários meses.

2.4.1. Intervenções farmacológica para a síndrome de abstinência
Os sinais e sintomas da abstinência de opióides podem ser tratados por três abordagens diferentes:
a) Substituir um opióide de ação curta (heroína) por um de longa ação como a Metadona. A Metadona tem sido utilizada tradicionalmente para suprimir os sinais e sintomas da síndrome de abstinência da heroína, e é retirada ao longo período que varia entre uma semana e seis meses. A maioria dos médicos consideram 21 dias suficientes para uma desintoxicação a curto prazo sem internação. A dose inicial geralmente varia de 20-30mg, que é uma dose de teste para determinar a dose necessária para o tratamento. Em seguida calcula-se a dose total do primeiro dia dependendo da resposta, e depois reduzi-la em 20% ao dia durante o período de desintoxicação.
b) A segunda abordagem para desintoxicação é a Clonidina, um fármaco aprovado para tratamento da hipertensão para tratar dos sintomas autônomos da síndrome de abstinência como náuseas, vômitos, cãibras, sudorese, taquicardia e hipertensão. No entanto, não elimina as dores generalizadas e o desejo incontrolável de tomar opióides;
c) O terceiro método envolve a ativação do sistema opióide endógeno sem fármacos, como as técnicas de acumputura e vários métodos de ativação do SNC utilizando a estimulação elétrica, no entanto, esta abordagem ainda não foi considerada aplicável.

2.4.2. Tratamento da dependência

O tratamento mais eficaz consiste na estabilização da Metadona, cuja dose deve ser suficiente para evitar os sintomas da abstinência por pelo menos 24 horas. O cloridrato de acetato de levometadil é outra opção de manutenção que bloqueia a síndrome de abstinência por 72 horas.
a) Manutenção com agonistas: Em virtude da tolerância cruzada (metadona e heroína) os pacientes que injetam a heroína na rua percebem uma redução do efeito produzido pelas doses habituais da droga. Os pacientes tratados com metadona ou acetato de levometadil não experimentam os altos e baixos típicos do uso da heroína, o desejo diminui e pode desaparecer.
b) Tratamento com antagonistas: Outra opção farmacológica é o tratamento com antagonistas opióides. A naltrexona bloqueia os efeitos da heroína, no entanto não satisfaz o desejo incontrolável de usar a droga ou alivia os sintomas da abstinência, por estas razões não é atraente para o dependente comum da heroína, mas pode ser usado depois da desintoxicação para aqueles que se propõe a não mais usar a droga. Esta abordagem é bem tolerada por médicos, enfermeiros e farmacêuticos com problemas de dependência.

c) Tratamento com Benzodiazepinas: A utilização de benzodiazepinas, fármacos ansiolíticos, que se destinam a controlar a ansiedade, serve de forma geral para sustentar outras formas de tratamento. A sua utilização deve-se ao facto da ansiedade ser provavelmente a componente clinicamente mais importante do quadro de privação de opiáceos, o pior tolerado e o fato mais frequentemente envolvido em recaídas. Embora acompanhe a privação de opiáceos, deriva de mecanismos diversos de natureza psicológica advindo assim a necessidade de associação de benzodiazepinas a outras terapias.
No entanto, a sua utilização deve ser cuidadosa dado serem também causadoras de dependência e, muitas vezes, indivíduos dependentes de heroína estão também dependentes de benzodiazepinas. Normalmente os toxicodependentes tomam este tipo de substâncias para aumentar os efeitos da própria heroína, por isso por vezes poderá não ser o tratamento mais indicado. Para os toxicodependentes que demonstrem verdadeira vontade de suspender os consumos de heroína existe um medicamento chamado "Suboxone" que substitui com grande eficácia a heroína e tem efeitos terapeuticos semelhantes às benzodiazepinas tal como o "Serenal".
d) Tratamentos com Sedativos ou Anestesia Geral: Estes tratamentos baseiam-se na desintoxicação de doentes dependentes de heroína usando antagonistas opióides enquanto os doentes se encontram sob o efeito de sedativos ou anestesia geral sendo um método rápido e, portanto, designado de desintoxicação ultra-rápida de opióides (UROD). Tem várias potenciais vantagens que passam pela: Aceleração do processo de abstinência por inibição de ligação dos agonistas aos receptores opióides permite uma hospitalização menos prolongada, havendo uma diminuição de custos Melhoria da aceitação da abstinência por parte do doente no decorrer das fases iniciais do tratamento resultado de um maior conforto que é devido à acção dos sedativos ou amnésia.
Este método tem, no entanto, fortes contra-indicações pois traz graves efeitos secundários como uma ocorrência pronunciada de vómitos intensos.
e) Novas opções terapêuticas: Outro tratamento por substituição que tem sido utilizado envolve Buprenorfina. Esta sua natureza faz com que os sintomas do quadro de abstinência sejam menores do que os dos verdadeiros agonistas como a metadona e provoca também uma menor dependência física. Sua utilização é mais segura e traz menos riscos de abuso do que a metadona sendo, no entanto, eficaz no bloqueio da euforia e do síndrome de abstinência produzidos por outros opióides. Também estão sendo testadas uma formulação de depósito de naltrexona que fornece medicação depois de uma única injeção, que eliminaria a necessidade de comprimidos todos os dias e evitaria a recidiva quando o paciente récem-desintoxicado saísse de um ambiente protegido.



2.5. Fenciclidina (PCP)

A PCP foi desenvolvida como anestésico na década de 1950 e mais tarde foi abandonada devido à alta freqüência de delírio pós-operatório com alucinações. Essa droga foi classificada como um anestésico dissociativo porque, no estado de anestesia o paciente permanece consciente com o olhar fixo, face inexpressiva e músculos rígidos; a postura catatônica também ocorre e assemelha-se a esquizofrenia.
Os usuários que tomam doses mais altas podem aparentar estarem reagindo as alucinações e apresentam comportamento hostil ou agressivo. Pacientes intoxicados atendidos nos setores de emergência podem progredir do comportamento agressivo ao coma, com hipertensão arterial e pupilas dilatadas e não-reativas.
Os sinais e sintomas desta droga foram observados em macacos depois da interrupção do acesso diário à droga, e incluíam sonolência, tremor, convulsões, diarréia, piloereção, bruxismo e vocalizações.

2.5.1. Tratamento farmacológica

A overdose deve ser tratada com medidas de sustentação, pois não há um antagonista para os efeitos da PCP e não existe qualquer método comprovado para acelerar sua excreção, embora a acidificação da urina tenha sido recomendada (Goodman e Gilman, 2003, p.478). O coma pode durar de 7 a 10 dias.
O estado de agitação ou psicose pode ser tratado com diazepam. Os pacientes com comportamento psicótico prolongado devem receber um neuroléptico como o haloperidol;
Em virtude da atividade anticolonérgeticos da PCP, os neuroléptico com efeitos anticolinérgicos significativos como o clorpromazina devem ser evitados.










3. CONCLUSÃO

Nesta pesquisa bibliográfica buscamos conhecer o tratamento farmacológico das drogas de abuso algumas lícitas e outras ilícitas. Observamos que a farmacoterapia visa auxiliar pacientes que estão buscando deixar as drogas, de forma a tornar o processo de desintoxicação, tratamento dos sintomas da síndrome da abstinência e da dependência mais eficiente e possível de acontecer, pois sem este auxílio, seria muito difícil o tratamento.
A intervenção farmacológica são recursos válidos e disponíveis que muitas vezes chegam a salvar a vida dos pacientes como em situações de emergência por intoxicação, ou superdosagens. Outros casos, em que pacientes além da droga, apresentam doenças psiquiátricos associadas como depressão, ansiedade ou esquizofrenia, que necessitam de medicamentos para seu controle.
É muito comum encontrar pessoas que desconhecem a importância destes medicamentos de tratamento para as drogas, e questionam a utilidade deles, devido as conseqüências de cada um deles. Mas é importante avaliar que somente são recomendados após medir questões de segurança para o paciente e seu efeito potencial, para minimizar os riscos de o medicamento causar conseqüências danosas para o paciente.
Como o tratamento farmacológico é utilizado juntamente com outros métodos de intervenção como as psicoterapias, torna-se necessário um maior conhecimento dos profissionais de psicologia sobre o assunto.














4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


GOODMAN; GILMAN (2003). As bases farmacológicas da terapia. Rio de Janeiro: McGraw-Hill.

LEITE, Marcos da Costa (1999). Aspectos básicos do tratamento da síndrome de dependência de substâncias psicoativas. Brasília: Presidência da República, Gabinete de Segurança Institucional, Secretaria Nacional Antidrogas,

SCHOTZBERG; NEMEROFF (2002). Fundamentos de psicofarmacologia clínica. Guanabara Koogan.

ANÁLISE PSICOLÓGICA DO FILME "NÚMERO 23"

NÚMERO 23: Um romance de obsessão de Walter Paul Sparrow
O título do filme “Número 23” não revela muito de interessante no início da trama, apesar de algumas informações sobre o número, como se estivesse relacionado com alguns fatos marcantes na história da humanidade; Apresenta o personagem Walter Sparrow (Jim Carrey), um amestrador de animais, casado com Agatha Sparrow (Virginia Madson) e do filho, Robin (Logan Lerman), uma família pequena, unida e feliz.
Mas a história realmente começa quando Walter Sparrow vai atender a última ocorrência no trabalho e é atacado pelo cão chamado Ned ou “Guardião dos Mortos” como mais tarde descobre, e que coincidentemente costuma se postar, no cemitério, diante da sepultura de uma jovem, Laura Tollins, falecida na data do aniversário do amestrador. Enquanto isso acontece, sua esposa Agatha encontra em uma loja de livros usados o livro “Número 23”, escrito por um tal de Top Secret, sobre Fingerling, um detetive que cria obsessão na simbologia do número 23, após encontrar-se com uma loira suicida. E essa obsessão também acontece com Walter à medida que avança na leitura do livro, pois ele se identifica com o personagem em inúmeras situações.
Para muitos, o encontro com Ned e o livro na data de seu aniversário não passariam de simples coincidência, mas do ponto de vista analítico, haveria uma relação entre eles, ou seja, haveria uma sincronicidade, e esta teria a ordem de trazer pistas sobre alguma situação não terminada, um conflito que precisava ser resolvido para ganhar um fim. Para Jung, quando acontece a sincronicidade e ela é percebida, a pessoa deve tentar entender o que aconteceu e ir à busca da compreensão do que o “universo” está querendo dizer.
À medida que Walter avança na leitura do livro, ele começa a ter contato com seu lado obscuro, como diria Jung, o lado sombra, uma parte bem escondida, atrás da consciência. Para Jung a sombra é o núcleo do material reprimido pela consciência, o que mais tarde veremos no filme, conseqüência do trauma vivido após a morte de sua ex-namorada. O ego teria bloqueado esta experiência com uma amnésia dissociativa, que para a psicanálise, consiste em um mecanismo de defesa, no qual a pessoa altera a consciência como um modo de lidar com um conflito emocional (Kaplan, 1997, p.606).
O número 23 seria o elo de ligação entre Walter e seu passado, começando pelas lembranças de sua infância, do pai sempre triste e distante, a morte misteriosa de sua mãe no seu aniversário de oito anos, sua solidão e obsessão por estórias de detetive, a morte do pai, e a vida de orfanato a orfanato entre outras memórias que até então estavam adormecidas.
A princípio sua esposa tenta evitar que chegue ao delírio paranóide, contestando as aproximações que ele faz com Fingerling, mas, depois, a paranóia envolve toda a família, no entanto ainda assim a família permanece unida. O pior de tudo, entretanto, é quando Walter descobre que a narrativa do livro é concluída com uma morte brutal. O número parece comandar seu destino, e fica óbvio na cena em que sua esposa o encontra dormindo no sofá com vários números no braço e a mensagem: “Agatha – mate-a”. Tornará ele também um assassino?
Freud fala de compulsão à repetição, como uma tendência que exige retornar, reencontrar aquilo que já aconteceu como é o caso de Sparrow. O desejo ativo do passado, mesmo que o passado tenha sido ruim para o eu, explica-se por essa compulsão a retomar o que não foi concluído, com vontade de completá-lo. Por isso a compulsão a repetição seria o desejo de retomar ao passado e rematar, sem entraves e desvios, a ação que se revelou impossível, como se as pulsões inconscientes nunca se resignassem a ficar condenadas ao recalcamento (Nazio, 1995, p.45).
O número trazia de volta conteúdos reprimidos, uma parte de Sparrow que havia sido bloqueada, mas estava prestes a se revelar, o que acontece quando sua esposa ao perceber o perigo da verdade e o que isso poderia desencadear, tenta evitar o encontro, passando por traidora e mentirosa, fazendo vir a tona o lado sombrio de seu marido, e seus medos mais primitivos da fase edipiana.
A parte mais importantes para mim em todo o filme, acontece no momento em que Sparrow tem conhecimento da outra parte de sua vida, dos traumas que passou, da coisa terrível que fez e suas razões, sua compulsão e delírios que o levaram a escrever, fruto de um sentimento de culpa com obsessão numerológica, da tentativa de suicídio, internação e principalmente a rememoração da dor e o horror que tudo isso lhe causou.
A psicanálise fala de catarse, purgação que se dá através da liberação de emoções e tensões reprimidas, e sua importância ao fator traumático original do problema. Depois do choque, veio a confissão real, não deturpada como a primeira do livro. Naquele momento sua esposa ocupa um papel de primordial, em que o apóia e o ajuda a reviver a terrível cena desencadeadora do trauma. Depois de tentar acalmar o marido, dizer que ele era uma pessoa doente que ficou melhor entre outras coisas, e Sparrow insistir que é um assassino e que poderia fazer novamente, ocorre a repetição.
Tudo estava do jeito que deveria estar. O cenário inteiro, o número 23, um momento estressante, um conflito entre duas pessoas e um punhal e um destino trágico escrito para aquele momento. Agatha pega o punhal, entrega ao marido e pergunta se ele pode repetir: “Se é um assassino me mata! Veja todos esses 23 maravilhosos, não quer desapontá-los certo?” e continua a lhe provocar. Ao invés rejeição e desprezo que Sparrow esperava receber, é surpreendido pelo amor e aceitação da esposa. Mesmo assim, ele não aceita que ela o ame, diz que ela não pode, ninguém pode. Sparrow chora e sai correndo em direção à rua, encontra o Ned, e coloca-se em frente ao ônibus de número 23.
O que poderia ser um final triste por conta do destino, muda por conta de uma escolha, aquela que realmente importava. Afirma que há 13 anos fez a escolha errada e precisava reparar e não só por sim mesmo. E talvez fosse isso que Jung quisesse dizer a respeito dos aspectos positivos da sombra. É como se a sombra fosse uma fera dentro de nós, podendo aparecer a qualquer momento, mas que não precisava necessariamente acontecer, bastando que se fizesse as pazes com o lado sombrio.
Uma outra questão é porque todos estes acontecimentos teriam que acontecer naquele momento de sua vida, o porque daquele número o havia deixado sozinho por treze anos e agora o encontrara. Para a teoria analítica, o fato de alguns conteúdos ser tornarem conscientes e outros não é que vai depender da força do ego para suportar e de sua capacidade de diálogo interno com esses conteúdos; assim, se o ego tiver esses recursos, ele permitirá a passagem desses conteúdo para a consciência (Mednicoff, 2008, p.55).
O poder da escolha consciente pode mudar o rumo de nossa história, pois a sombra quando trabalha em harmonia com o ego, deixa a vida mais colorida e rica.

QUESTÕES ÉTICAS NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO: Consideração sobre o filme “Número 23”

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo levantar algumas reflexões sobre a formação ética do Psicólogo e sua prática profissional, partindo de uma análise crítica do filme “Número 23”, visando contribuir para que haja uma maior atenção para além do código de ética, uma vez que teremos que nos deparar com situações, impasses e conflitos não previstos em regulamentações ou leis.
Palavras-chave: Formação ética, ética profissional, aspectos morais e éticos.
ABSTRACT
This article aims to raise some reflections on the ethical formation of the Psychologist and his practice, from a critical review of the film "Number 23" in order to contribute to ensuring greater attention beyond the code of ethics, since have to face situations, dilemmas and conflicts not foreseen in regulations or laws.
Key-words: Ethics training, ethics, moral and ethical aspects.
1. INTRODUÇÃO
Existe atualmente uma extensa literatura sobre a formação do Psicólogo, no entanto, são poucas aquelas que tratam especialmente da formação ética desse profissional. Apesar do Código de Ética do Psicólogo atual ser mais abrangente e envolver questões da contemporaneidade, é necessário estarmos realmente atentos para não incorrer em riscos que possam prejudicar nossa prática profissional e a profissão psicólogo (Matos e Shimizu, 2008).
Quando buscava um tema que pudesse envolver a ética e a psicologia, surgiram várias idéias, e depois de assistir várias vezes o filme Número 23, e visualizar especialmente a cena do consultório psicológico e atuação da profissional junto ao paciente Walter Sparrow (Jim Carrey), decidi que era sobre isso que gostaria de abordar, por entender que essas relações do cotidiano estão permeadas por um Código de Ética, que estabelece padrões esperados pela respectiva categoria profissional e pela sociedade (CFP, 2005).
2. A ÉTICA NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO
Para Nalini (2006) a ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. No entanto, preferidos adotar a definição de Gabriel Chalita (2007) que define a ética como a busca da excelência em todas as coisas, um conceito bastante sintético para um tema muito amplo, mas que encerra toda a essência da palavra.
Conforme apontamos anteriormente, um Código de Ética Profissional por mais abrangente que seja não é completo, devido à variedade humana e as constantes mudanças que passam a sociedade (Ludwig, 2005). Sendo assim, é comum encontrar algumas situações não previstas no código de ética, mas que são questionadas pela mídia quanto ao seu caráter ético e moral, principalmente pela responsabilidade pessoal e coletiva, por ações e suas conseqüências no exercício profissional.
Trazemos como exemplo o filme de Joel Schumacher, o Número 23, cujo protagonista é Walter Sparrow (Jim Carrey), um amestrador de animais que apesar de experiente, se deixa atacar por um cachorro chamado Ned, ou “Guardião de Túmulos”. É encaminhado para atendimento psicológico com a Dra. Alice Mortimer (Palucia Belcher), e a psicóloga afirma que todo oficial após ser agredido por um animal deverá passar por acompanhamento de sete dias, no entanto, mostra-se indiferente a seu paciente, peca por permitir uma contratransferência, e despede o paciente sem ouvir sua demanda. Não há estabelecimento do vínculo e nem da comunicação.
Entre os deveres fundamentais do profissional de psicologia, está a prestação de serviços psicológicos de qualidade, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. No entanto não é isso que o telespectador percebe no filme, pois a imagem que temos é de uma psicóloga mais preocupada em se livrar do paciente do que atender profissionalmente, o que fere também outro ponto importante da Ética que é zelar para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia seja aviltada (CFP, 2005).
Temos vários outros exemplos, como dos dois irmãos de São Paulo que pediram por socorro e não foram atendidos e tiveram um final bastante trágico. È bem verdade que a psicóloga do caso não detinha total responsabilidade, no entanto, teve sua parte na culpa, e à mídia coube o papel de apontar culpados e questionar a postura profissional e a profissão em si. Então vem a fala bem comum no filme Número 23: “E se...”.
Poderíamos questionar: “E se a psicóloga tivesse estabelecido uma comunicação franca com aqueles dois garotos de São Paulo”, ou “E se Walter (Jim Carrey), tivesse recebido o acompanhamento psicológico, teria sido diferente?”. Bem, isso nunca saberemos. No entanto, serve para reflexão sobre nossa prática profissional como futuros psicólogos, onde essa frase pode ser pensada muito tarde para se fazer alguma coisa.
Ao sair do tranqüilo consultório, Walter Sparrow fica obcecado com a leitura do livro Número 23, paranóico por conta da perseguição do número e do cachorro que o mordeu, revive alguns fatos traumáticos de sua vida, por pouco não surta de vez e comete outro assassinato, e põe fim à própria vida. E o que surpreende é que isso não estava presente no momento do atendimento psicológico, ou seja, não era interessante e estava tudo bem.
Acredito que seja a isso que Chalita (2007) estivesse se referindo quando define a ética como a busca da excelência em todas as coisas, ou seja, ética até mesmos naquelas coisas simples, que não demandam gravidade ou complicações, e que muitas vezes não despertam interesse.
A ética está em todas as relações, desde as salas de aula das universidades, nos estágios supervisionados, nos trabalhos e pesquisas de campo e na área de atual depois da formação, entretanto, a literatura disponível sobre ética em psicologia ainda é muito escasso.

2. CONCLUSÃO
Acredito que nós como futuros psicólogos e como observadores da “multiplicidade humana” devemos ter uma visão completa da realidade, despida de preconceitos e pautada no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano.
Nós como estudantes de psicologia devemos buscar a excelência profissional, a começar pela busca do aperfeiçoamento contínuo, que é um dos princípios da Ética, envolvendo não apenas o nível intelectual, mas das habilidades e atitudes adequadas ao profissional de psicologia, de forma a engrandecer mais ainda a profissão psicólogo, e a credibilidade na categoria. E cabe as faculdades favorecer uma formação adequada aos estudantes, a capacidade para atuar dentro dos padrões da Ética e da Bioética.


8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Chalita, Gabriel (2007). Entrevistas. In: Whitaker, Maria do Carmo. Ética na vida das empresas: depoimentos e experiências. São Paulo: DVS Editora, 2007.

Conselho Federal de Psicologia (2005). Resolução CFP nº 010/2005, de 27 de
agosto de 2005. Aprova o Código de Ética Profissional dos Psicólogos. Brasília, Distrito Federal.

Ludwig, Martha W. B. (2005) Dilemas éticos em psicologia: psicoterapia e pesquisa. Revista eletrônica da Sociedade Rio-Grandense de Bioética, n.1, v.1. Disponível em: http://www.sorbi.org.br. Acesso em: 09 de junho de 2009.

Mattos, G. G.; Shimizu, A. de Morais. Reflexões sobre a formação ética nos cursos de Graduação em psicologia. Revista Eletrônica de Psicologia. Ano VI – Número 10 – Maio de 2008 – Periódicos Semestral.