sábado, 27 de dezembro de 2008

A educação na zona rural

A EDUCAÇÃO NA ZONA RURAL
Não vou sair do campo
Pra poder ir pra escola.
A educação no Campo
È direito, e não esmola.
(...)
(Gilvan Santos)
A escolarização rural foi e ainda é vista preponderantemente pelos diversos governos brasileiros como um prolongamento da escolarização urbana. Nas escolas rurais, inicialmente, eram aplicados os mesmos métodos e materiais didáticos urbanos, em detrimento da diferença do processo de assimilação do conteúdo dos alunos do campo e da cidade.
Somente a partir da Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº 9394 de 1996, é que se abre uma preocupação para a especificidade da realidade rural (LEITE, 2002). Tal fato ocorre a partir da sustentação da idéia de uma escolaridade preocupada com a consciência ecológica, na preservação dos valores culturais e da práxis rural, e primordialmente no sentido da ação política dos rurícolas.
Atualmente, ainda nos deparamos com muitos problemas em relação à escola rural. Em relação aos aspectos sociopolíticos, verificou-se a baixa qualidade de vida na zona rural, uma vez que os rendimentos dessa população são muito baixos, e fortes penetrações da cultura urbana, ocasionando alterações nos valores socioculturais campesinos.
No que se refere à situação do professor, deparamo-nos com a presença do professor leigo ou de formação essencialmente urbana; que sofre graves problemas de transporte e moradia; a presença de clientelismo político na convocação dos docentes; baixo índice salarial, além do acúmulo de funções.
Quanto à clientela da escola rural, alguns aspectos são importantes de serem considerados:
§ A condição do aluno como trabalhador rural (principalmente dos alunos do sexo masculino, que, auxiliam seus pais nas mais diferentes atividades do campo);
§ A distância existente entre moradia, trabalho e escola, como um dificultador para a freqüência constante dos alunos;
§ O acesso precário a informações gerais (direitos trabalhistas, serviços básicos de saúde, educação);
§ As baixas condições financeiras familiares que podem gerar comprometimentos na saúde física ou mental (desnutrição, fome, baixa auto-estima/sentimento de inferioridade, pouca motivação).
Em relação à ação didático-pedagógica do professor na escola rural, temos também diversos problemas como:
§ A inadequação do currículo, tendo em vista que, em grande parte das vezes, o mesmo é estipulado por resoluções governamentais e, apesar das adaptações à realidade rural, trazem um referencial urbano de escola;
§ A estruturação didático-metodológica é deficiente, devido à escassez de verba pública para propiciar melhores condições de trabalho aos profissionais, ou mesmo pela precariedade da formação do profissional, que não detém conhecimento suficiente para dinamizar e tornar a aula mais atrativa ao aluno.
§ As salas multiseriadas agregam, além da diversidade já existente entre alunos de um mesmo nível cognitivo, séries diferentes, com demandas diferentes, que requerem metodologias didáticas diferentes.
§ O trabalho com personagens tão diferenciados não seria tão problemático se os docentes dispusessem de planejamentos especializados e materiais para tal. Infelizmente, essa não é a realidade que encontramos em grande parte das escolas estudadas.
§ A dissonância entre a sazonalidade da produção e o calendário escolar leva ao absenteísmo dos alunos e à conseqüente descontinuidade escolar, mesmo com a utilização da chamada “Pedagogia da alternância” (modelo recente desenvolvido em estados como RS e ES), que flexibiliza o calendário escolar, alinhando-o à colheita dos produtos plantados na região.
Uma mudança de perspectiva é fundamental, através de utilização de modelos e metodologias que priorizem o trabalho e a vida no campo, respeitando suas características, princípios e valores. A psicologia detém bastante conhecimento na área de ensino-aprendizagem e psicologia escolar, que pode servir de base para a formulação de pesquisas e projetos na área de políticas públicas para a educação rural.

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