sexta-feira, 12 de junho de 2009

QUESTÕES ÉTICAS NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO: Consideração sobre o filme “Número 23”

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo levantar algumas reflexões sobre a formação ética do Psicólogo e sua prática profissional, partindo de uma análise crítica do filme “Número 23”, visando contribuir para que haja uma maior atenção para além do código de ética, uma vez que teremos que nos deparar com situações, impasses e conflitos não previstos em regulamentações ou leis.
Palavras-chave: Formação ética, ética profissional, aspectos morais e éticos.
ABSTRACT
This article aims to raise some reflections on the ethical formation of the Psychologist and his practice, from a critical review of the film "Number 23" in order to contribute to ensuring greater attention beyond the code of ethics, since have to face situations, dilemmas and conflicts not foreseen in regulations or laws.
Key-words: Ethics training, ethics, moral and ethical aspects.
1. INTRODUÇÃO
Existe atualmente uma extensa literatura sobre a formação do Psicólogo, no entanto, são poucas aquelas que tratam especialmente da formação ética desse profissional. Apesar do Código de Ética do Psicólogo atual ser mais abrangente e envolver questões da contemporaneidade, é necessário estarmos realmente atentos para não incorrer em riscos que possam prejudicar nossa prática profissional e a profissão psicólogo (Matos e Shimizu, 2008).
Quando buscava um tema que pudesse envolver a ética e a psicologia, surgiram várias idéias, e depois de assistir várias vezes o filme Número 23, e visualizar especialmente a cena do consultório psicológico e atuação da profissional junto ao paciente Walter Sparrow (Jim Carrey), decidi que era sobre isso que gostaria de abordar, por entender que essas relações do cotidiano estão permeadas por um Código de Ética, que estabelece padrões esperados pela respectiva categoria profissional e pela sociedade (CFP, 2005).
2. A ÉTICA NO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO
Para Nalini (2006) a ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. No entanto, preferidos adotar a definição de Gabriel Chalita (2007) que define a ética como a busca da excelência em todas as coisas, um conceito bastante sintético para um tema muito amplo, mas que encerra toda a essência da palavra.
Conforme apontamos anteriormente, um Código de Ética Profissional por mais abrangente que seja não é completo, devido à variedade humana e as constantes mudanças que passam a sociedade (Ludwig, 2005). Sendo assim, é comum encontrar algumas situações não previstas no código de ética, mas que são questionadas pela mídia quanto ao seu caráter ético e moral, principalmente pela responsabilidade pessoal e coletiva, por ações e suas conseqüências no exercício profissional.
Trazemos como exemplo o filme de Joel Schumacher, o Número 23, cujo protagonista é Walter Sparrow (Jim Carrey), um amestrador de animais que apesar de experiente, se deixa atacar por um cachorro chamado Ned, ou “Guardião de Túmulos”. É encaminhado para atendimento psicológico com a Dra. Alice Mortimer (Palucia Belcher), e a psicóloga afirma que todo oficial após ser agredido por um animal deverá passar por acompanhamento de sete dias, no entanto, mostra-se indiferente a seu paciente, peca por permitir uma contratransferência, e despede o paciente sem ouvir sua demanda. Não há estabelecimento do vínculo e nem da comunicação.
Entre os deveres fundamentais do profissional de psicologia, está a prestação de serviços psicológicos de qualidade, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional. No entanto não é isso que o telespectador percebe no filme, pois a imagem que temos é de uma psicóloga mais preocupada em se livrar do paciente do que atender profissionalmente, o que fere também outro ponto importante da Ética que é zelar para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia seja aviltada (CFP, 2005).
Temos vários outros exemplos, como dos dois irmãos de São Paulo que pediram por socorro e não foram atendidos e tiveram um final bastante trágico. È bem verdade que a psicóloga do caso não detinha total responsabilidade, no entanto, teve sua parte na culpa, e à mídia coube o papel de apontar culpados e questionar a postura profissional e a profissão em si. Então vem a fala bem comum no filme Número 23: “E se...”.
Poderíamos questionar: “E se a psicóloga tivesse estabelecido uma comunicação franca com aqueles dois garotos de São Paulo”, ou “E se Walter (Jim Carrey), tivesse recebido o acompanhamento psicológico, teria sido diferente?”. Bem, isso nunca saberemos. No entanto, serve para reflexão sobre nossa prática profissional como futuros psicólogos, onde essa frase pode ser pensada muito tarde para se fazer alguma coisa.
Ao sair do tranqüilo consultório, Walter Sparrow fica obcecado com a leitura do livro Número 23, paranóico por conta da perseguição do número e do cachorro que o mordeu, revive alguns fatos traumáticos de sua vida, por pouco não surta de vez e comete outro assassinato, e põe fim à própria vida. E o que surpreende é que isso não estava presente no momento do atendimento psicológico, ou seja, não era interessante e estava tudo bem.
Acredito que seja a isso que Chalita (2007) estivesse se referindo quando define a ética como a busca da excelência em todas as coisas, ou seja, ética até mesmos naquelas coisas simples, que não demandam gravidade ou complicações, e que muitas vezes não despertam interesse.
A ética está em todas as relações, desde as salas de aula das universidades, nos estágios supervisionados, nos trabalhos e pesquisas de campo e na área de atual depois da formação, entretanto, a literatura disponível sobre ética em psicologia ainda é muito escasso.

2. CONCLUSÃO
Acredito que nós como futuros psicólogos e como observadores da “multiplicidade humana” devemos ter uma visão completa da realidade, despida de preconceitos e pautada no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano.
Nós como estudantes de psicologia devemos buscar a excelência profissional, a começar pela busca do aperfeiçoamento contínuo, que é um dos princípios da Ética, envolvendo não apenas o nível intelectual, mas das habilidades e atitudes adequadas ao profissional de psicologia, de forma a engrandecer mais ainda a profissão psicólogo, e a credibilidade na categoria. E cabe as faculdades favorecer uma formação adequada aos estudantes, a capacidade para atuar dentro dos padrões da Ética e da Bioética.


8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Chalita, Gabriel (2007). Entrevistas. In: Whitaker, Maria do Carmo. Ética na vida das empresas: depoimentos e experiências. São Paulo: DVS Editora, 2007.

Conselho Federal de Psicologia (2005). Resolução CFP nº 010/2005, de 27 de
agosto de 2005. Aprova o Código de Ética Profissional dos Psicólogos. Brasília, Distrito Federal.

Ludwig, Martha W. B. (2005) Dilemas éticos em psicologia: psicoterapia e pesquisa. Revista eletrônica da Sociedade Rio-Grandense de Bioética, n.1, v.1. Disponível em: http://www.sorbi.org.br. Acesso em: 09 de junho de 2009.

Mattos, G. G.; Shimizu, A. de Morais. Reflexões sobre a formação ética nos cursos de Graduação em psicologia. Revista Eletrônica de Psicologia. Ano VI – Número 10 – Maio de 2008 – Periódicos Semestral.

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