sexta-feira, 12 de junho de 2009

ANÁLISE PSICOLÓGICA DO FILME "NÚMERO 23"

NÚMERO 23: Um romance de obsessão de Walter Paul Sparrow
O título do filme “Número 23” não revela muito de interessante no início da trama, apesar de algumas informações sobre o número, como se estivesse relacionado com alguns fatos marcantes na história da humanidade; Apresenta o personagem Walter Sparrow (Jim Carrey), um amestrador de animais, casado com Agatha Sparrow (Virginia Madson) e do filho, Robin (Logan Lerman), uma família pequena, unida e feliz.
Mas a história realmente começa quando Walter Sparrow vai atender a última ocorrência no trabalho e é atacado pelo cão chamado Ned ou “Guardião dos Mortos” como mais tarde descobre, e que coincidentemente costuma se postar, no cemitério, diante da sepultura de uma jovem, Laura Tollins, falecida na data do aniversário do amestrador. Enquanto isso acontece, sua esposa Agatha encontra em uma loja de livros usados o livro “Número 23”, escrito por um tal de Top Secret, sobre Fingerling, um detetive que cria obsessão na simbologia do número 23, após encontrar-se com uma loira suicida. E essa obsessão também acontece com Walter à medida que avança na leitura do livro, pois ele se identifica com o personagem em inúmeras situações.
Para muitos, o encontro com Ned e o livro na data de seu aniversário não passariam de simples coincidência, mas do ponto de vista analítico, haveria uma relação entre eles, ou seja, haveria uma sincronicidade, e esta teria a ordem de trazer pistas sobre alguma situação não terminada, um conflito que precisava ser resolvido para ganhar um fim. Para Jung, quando acontece a sincronicidade e ela é percebida, a pessoa deve tentar entender o que aconteceu e ir à busca da compreensão do que o “universo” está querendo dizer.
À medida que Walter avança na leitura do livro, ele começa a ter contato com seu lado obscuro, como diria Jung, o lado sombra, uma parte bem escondida, atrás da consciência. Para Jung a sombra é o núcleo do material reprimido pela consciência, o que mais tarde veremos no filme, conseqüência do trauma vivido após a morte de sua ex-namorada. O ego teria bloqueado esta experiência com uma amnésia dissociativa, que para a psicanálise, consiste em um mecanismo de defesa, no qual a pessoa altera a consciência como um modo de lidar com um conflito emocional (Kaplan, 1997, p.606).
O número 23 seria o elo de ligação entre Walter e seu passado, começando pelas lembranças de sua infância, do pai sempre triste e distante, a morte misteriosa de sua mãe no seu aniversário de oito anos, sua solidão e obsessão por estórias de detetive, a morte do pai, e a vida de orfanato a orfanato entre outras memórias que até então estavam adormecidas.
A princípio sua esposa tenta evitar que chegue ao delírio paranóide, contestando as aproximações que ele faz com Fingerling, mas, depois, a paranóia envolve toda a família, no entanto ainda assim a família permanece unida. O pior de tudo, entretanto, é quando Walter descobre que a narrativa do livro é concluída com uma morte brutal. O número parece comandar seu destino, e fica óbvio na cena em que sua esposa o encontra dormindo no sofá com vários números no braço e a mensagem: “Agatha – mate-a”. Tornará ele também um assassino?
Freud fala de compulsão à repetição, como uma tendência que exige retornar, reencontrar aquilo que já aconteceu como é o caso de Sparrow. O desejo ativo do passado, mesmo que o passado tenha sido ruim para o eu, explica-se por essa compulsão a retomar o que não foi concluído, com vontade de completá-lo. Por isso a compulsão a repetição seria o desejo de retomar ao passado e rematar, sem entraves e desvios, a ação que se revelou impossível, como se as pulsões inconscientes nunca se resignassem a ficar condenadas ao recalcamento (Nazio, 1995, p.45).
O número trazia de volta conteúdos reprimidos, uma parte de Sparrow que havia sido bloqueada, mas estava prestes a se revelar, o que acontece quando sua esposa ao perceber o perigo da verdade e o que isso poderia desencadear, tenta evitar o encontro, passando por traidora e mentirosa, fazendo vir a tona o lado sombrio de seu marido, e seus medos mais primitivos da fase edipiana.
A parte mais importantes para mim em todo o filme, acontece no momento em que Sparrow tem conhecimento da outra parte de sua vida, dos traumas que passou, da coisa terrível que fez e suas razões, sua compulsão e delírios que o levaram a escrever, fruto de um sentimento de culpa com obsessão numerológica, da tentativa de suicídio, internação e principalmente a rememoração da dor e o horror que tudo isso lhe causou.
A psicanálise fala de catarse, purgação que se dá através da liberação de emoções e tensões reprimidas, e sua importância ao fator traumático original do problema. Depois do choque, veio a confissão real, não deturpada como a primeira do livro. Naquele momento sua esposa ocupa um papel de primordial, em que o apóia e o ajuda a reviver a terrível cena desencadeadora do trauma. Depois de tentar acalmar o marido, dizer que ele era uma pessoa doente que ficou melhor entre outras coisas, e Sparrow insistir que é um assassino e que poderia fazer novamente, ocorre a repetição.
Tudo estava do jeito que deveria estar. O cenário inteiro, o número 23, um momento estressante, um conflito entre duas pessoas e um punhal e um destino trágico escrito para aquele momento. Agatha pega o punhal, entrega ao marido e pergunta se ele pode repetir: “Se é um assassino me mata! Veja todos esses 23 maravilhosos, não quer desapontá-los certo?” e continua a lhe provocar. Ao invés rejeição e desprezo que Sparrow esperava receber, é surpreendido pelo amor e aceitação da esposa. Mesmo assim, ele não aceita que ela o ame, diz que ela não pode, ninguém pode. Sparrow chora e sai correndo em direção à rua, encontra o Ned, e coloca-se em frente ao ônibus de número 23.
O que poderia ser um final triste por conta do destino, muda por conta de uma escolha, aquela que realmente importava. Afirma que há 13 anos fez a escolha errada e precisava reparar e não só por sim mesmo. E talvez fosse isso que Jung quisesse dizer a respeito dos aspectos positivos da sombra. É como se a sombra fosse uma fera dentro de nós, podendo aparecer a qualquer momento, mas que não precisava necessariamente acontecer, bastando que se fizesse as pazes com o lado sombrio.
Uma outra questão é porque todos estes acontecimentos teriam que acontecer naquele momento de sua vida, o porque daquele número o havia deixado sozinho por treze anos e agora o encontrara. Para a teoria analítica, o fato de alguns conteúdos ser tornarem conscientes e outros não é que vai depender da força do ego para suportar e de sua capacidade de diálogo interno com esses conteúdos; assim, se o ego tiver esses recursos, ele permitirá a passagem desses conteúdo para a consciência (Mednicoff, 2008, p.55).
O poder da escolha consciente pode mudar o rumo de nossa história, pois a sombra quando trabalha em harmonia com o ego, deixa a vida mais colorida e rica.

5 comentários:

  1. Olá! Estou fazendo um trabalho de psicologia e sou do RS. Você poderia me dar a referência completa do Nazio 1995?
    Obrigado!

    ResponderExcluir
  2. muito bom menina parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Olá eu queria saber qual diagnostico de Walter!
    Por Favor!

    ResponderExcluir
  4. Parabéns! Não sou da área,mas achei ótima a sua análise.

    ResponderExcluir
  5. Walther é psicótico, uma psicose paranoide.

    ResponderExcluir