sexta-feira, 12 de junho de 2009

Práticas Educativas Parentais

2.1. Revisão da Literatura Sobre Práticas Educativas Parentais
Gomide (2006, p.7) define as práticas educativas como estratégias específicas utilizadas pelos pais em diferentes contextos visando educar, socializar e controlar o comportamento dos filhos, seja no ambiente intra ou extra-familiar. Para ela, os pais ou responsáveis usam uma combinação de estratégias variando de acordo com a situação.
Estas práticas educativas parentais segundo Gomide (2006, p. 8), podem desenvolver tanto comportamentos pró-sociais quanto anti-sociais, dependendo da freqüência e intensidade com que os pais as utilizam. E para o resultado do uso desse conjunto de práticas educativas parentais a autora denomina estilo parental.
Como vimos acima, um dos objetivos das práticas educativas é a socialização do indivíduo. Para Newcombe (1999, p.338) o conceito de socialização também tem um grande peso em qualquer discussão sobre o desenvolvimento social e da personalidade. Para tanto, define a socialização como “o processo através do qual as crianças adquirem comportamento, habilidades, motivações, valores, convicções e padrões que são característicos, apropriados e desejáveis em sua cultura”.
Portanto, o processo de socialização de um indivíduo está intimamente relacionado ao contexto sócio-histórico e cultural onde está inserido. Newcombe (1999, p.338) afirma que as metas da socialização variam de acordo com a cultura. Este fato é constatado na forma como os pais eram orientados a educar os filhos até meados do século passado e como o são hoje em dia.
Sobre esta mudança de paradigmas na educação familiar, Gomide (2008, p. 9) levanta algumas características desta época onde as regras impostas no século passado, eram inquestionáveis. Os pais puniam e castigavam os filhos, como um dever e obrigação de um bom educador. Esta prática bastante comum e incentivada pela sociedade começou a ser questionada com a revolução de costumes dos anos 50.
A rigidez habitual dos costumes foi confrontada primeiramente, pela liberdade sexual e depois, pela flexibilidade das regras na educação dos filhos. Os filhos dos pais autoritários revoltaram-se contra estas práticas e trataram de fazer o contrário, passaram então a repudiar mais a punição corporal e as práticas coercitivas, adotando formas mais democráticas como o diálogo como fonte de educação como também o extremo, a permissividade (Gomide, 2008, p.9).
Içami Tiba (2002, p. 47) afirma que se estes novos pais fizerem como seus pais faziam não vai dar certo; se fizerem também o contrário, soltarem os filhos para fazerem o que bem entenderem, também não. Complementa dizendo que “fazer o oposto do modelo errado não significa fazer o que é certo”, fato muito comum em muitas famílias.
Entretanto, esta nova maneira de educar trouxe conseqüências diversas das esperadas pela sociedade moderna, não devido ao novo modelo, mas pelo fato dos pais terem aberto mão de seu importante papel de educador (Gomide, 2008, p.9), gerando conseqüências desastrosas no cenário familiar, como na sociedade em geral.
Gomide (2006, p.8) firma que as práticas educativas que podem levar ao desenvolvimento de comportamentos anti-sociais são chamadas de práticas educativas negativas, sendo seis as mais encontradas na literatura: negligência, abuso físico e psicológico, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoria negativa. Quanto às práticas educativas positivas, que colaboram para o adequado desenvolvimento pró-social da criança destacam-se a monitoria positiva e o comportamento moral.
A sociedade em que vivemos, necessita lutar para a revalorização da família; Para Kliksberg (2003, p.50), investir na família é fundamental para a prevenção da criminalidade, esta que tem gerado muitos gastos públicos e preocupação para as autoridades. Diz também que uma boa educação familiar contribui para uma sociedade melhor de se viver. O autor afirma que “os valores inculcados nas crianças na família a esse respeito, nos primeiros anos, e os exemplos de conduta observados vão influenciar consideravelmente suas decisões e condutas futuras.


2.1.1. As práticas educativas positivas
2.1.1.1. Monitoria parental positiva.
A monitoria parental positiva é definida por Gomide (2006, p.7), como um “conjunto de comportamentos parentais que envolvem atenção para a localização de seus filhos, para suas atividades e formas de adaptação”. A autora afirma que esta definição é similar à definição do dicionário em que o vocábulo monitoria significa manter a guarda ou checar como um meio de controle.
Gomide (2006, p.9) sugere que os pais devem proporcionar as crianças um conjunto de regras sobre onde devem ir, com quem podem associar-se, quando devem ir para casa e, ainda, garantir o seguimento obediente de tais regras e, além disso, ter uma ação disciplinar efetiva quando tais regras são violadas. Sendo assim, os pais devem utilizar disciplina consistente e controlar ativamente os comportamentos de seus filhos e suas companhias.
Modelos teóricos sobre as práticas parentais demonstram que a monitoria inadequada se inicia quando o comportamento inadequado aparece na infância e, se os pais não forem orientados, este déficit em supervisão conduzirá o adolescente à associação a pares desviantes, resultando em provável desenvolvimento de comportamento anti-social (Gomide, 2006, p.8).
Para Gomide (2006, p.8) o controle parental descreve tanto os comportamentos parentais quanto os estilos parentais. Para a autora, o controle está relacionado com exigências e expectativas de maturidade impostas pelos pais, através de confrontações diretas, supervisão e disciplina consistente.
Os pesquisadores Fletcher, Darling e Steinberg (1995, p.262) apontados por Gomide (2006, p. 10) têm utilizado como medidas de controle parental, perguntas sobre o conhecimento dos pais das atividades de seus filhos, como: Quanto seus pais realmente sabem sobre quem são seus amigos? Onde você vai à noite? Com o que você gasta seu dinheiro? O que você faz no seu tempo livre? Onde você está nas tardes depois da aula?
Gomide (2006, p.10) explica que os pais deveriam ter conhecimento da vida de seus filhos de três maneiras. Primeiramente, os filhos falando e contando espontaneamente aos pais, sem qualquer persuasão. A segunda forma seria os pais obtendo informações de seus filhos e de seus amigos através de solicitações, ou seja, interrogando os mesmos para que falem abertamente suas intenções. Por último, os pais deveriam impor regras e restrições sobre as atividades dos filhos e sobre as suas companhias, controlando assim a quantidade de liberdade que a criança tem para fazer coisas sem contar aos pais.
A partir dessa afirmativa, é importante observar que os canais de comunicação parental devem estar abertos para que a relação entre pais e filhos esteja embasada no respeito, afeto e confiança mútua, permitindo que o filho não tenha receio de compartilhar de sua vida com os pais, sem o medo de ouvir um não, e sem precisar adular os mesmos para obter um sim (Gomide, 2006, p.11).
O apego, ou a falta de apego também tem sido mostrado como uma das medidas preditoras de delinqüência que pode ser uma variável motivando a criança a contar aos pais sobre sua vida e também prevenindo o envolvimento em problemas (Gomide, 2006, p.12). Quando mais sentirem-se aceitas e seguras na família, menores serão as chances da criança apresentar comportamento delinqüente na adolescência.
Sendo assim, mais benéfico que a vigilância e controle tem sido a comunicação parental. Estudos testaram se os apegos aos pais diminuíam o risco da delinqüência, indicaram que delinqüentes tinham comunicação pobre com seus pais, falta de intimidade com eles, não gozavam de aceitação, respeito e de comunicação sobre planos futuros; também tinham pouca supervisão e controle parental (Gomide, 2006, p.11).
Helen Bee (1996, p.373) afirma que a afeição e o carinho dos pais aumentam a força daquilo que eles dizem para a criança, e a eficiência de sua disciplina, pois o carinho torna as crianças mais responsivas e solícitas à orientação, evitando o desgaste na relação familiar.
Segundo Gomide (2006, p. 12) o apoio e o amor dos pais são a base da monitoria positiva, e que, unida ao interesse real da criança, cria um ambiente propício para a revelação infantil e afasta a necessidade da fiscalização estressante por parte dos pais.
Os pais precisam saber distinguir entre mostrar interesse pelos filhos e fiscalizar. Gomide (2008, p. 58) afirma que interrogar sobre o dia de seu filho na escola ou sobre a festa na noite anterior não é mostrar interesse, pois mostrar interesse é se mostrar disponível para ouvir o que o filho gostaria de relatar, compartilhando suas conquistas ou problemas e estar disponível para auxiliar e apoiar quando as dificuldades surgirem.
Gomide (2008, p.58) defende que este estilo de educar é determinante para se evitar problemas futuros, porque o acompanhamento e interesse positivo e genuíno dos pais reforçam a idéia de que ela é amada, que representa o primeiro passo para a formação de uma pessoa segura; outro benefício é que a criança aprende que não precisam fazer coisas erradas para chamar atenção dos pais, além de estabelecer uma relação de confiança.
Os estudos sobre a monitoria parental, citados por Gomide (2006, p.12), relacionaram a monitoria a baixos índices de delinqüência, hábitos de fumar, uso de drogas e de desenvolvimento de comportamentos infratores, enquanto os altos índices de revelação por parte do jovem foram relacionados com baixos níveis de comportamentos infratores, independentemente da solicitação e do controle parental, diagnosticou-se que quanto mais os pais perguntam sobre as atividades de seus filhos, mais estes apresentam comportamentos infratores.

2.1.1.2. Comportamento moral
O comportamento moral foi definido por Gomide (2001, p.13) como o processo de modelagem de papéis na identificação e nas interações humanas, no que se refere principalmente a normas e valores transmitidos através do modelo parental.
Dessa forma, essa prática educativa está ligada aos comportamentos morais transmitidos aos filhos pelos pais, através de seus próprios comportamentos, diálogos, etc., referentes a temas como justiça, honestidade, generosidade, compaixão, empatia entre outros (Gomide, 2006, p.13). O estudo dessa prática procura investigar qual o efeito da transmissão destes valores para a inibição do comportamento anti-social.
A literatura aponta para alguns componentes essenciais para a existência do comportamento moral, sendo eles: Sentimento de culpa, vergonha, empatia, atitudes honestas e generosas, crenças positivas sobre o trabalho e ausência de práticas anti-sociais. Todos esses componentes vem sendo desenvolvidos através das relações da criança com o ambiente, onde os pais podem ser os melhores mediadores para favorecer a discriminação e a aquisição de repertório moral (Gomide, 2006, p.13).
Gomide (2006, p.13) ressalta a importância dos pais refletirem junto com as crianças sobre seus comportamentos ensinando-as a se colocar no lugar dos outros e propiciando situações para que ela repare seus atos no intuito de promover reflexão, desenvolver empatia e em conseqüência, o comportamento moral.


2.1.2. Práticas educativas negativas
2.1.2.1. Negligência
A negligência tem sido apontada como uma das práticas que mais tem prejudicado o desenvolvimento de crianças e adolescentes, colocando-os na situação de risco, e está muito associada à história de vida de usuários de álcool e outras drogas e de adolescentes com comportamento infrator (Gomide, 2008, p.69).
Ela foi definida por Gomide (2008, p.69) como a prática parental que remete a ausência de supervisão e interesse dos pais em relação à vida de seu filho. Nesses casos os pais agem como expectadores e não participantes da educação, sendo que essa situação pode se caracterizar por falta de atenção, descaso, omissão e até mesmo falta de amor.
Os pais negligentes ignoram a maioria dos comportamentos da criança e respondem muito pouco às iniciativas de comunicação dos filhos. As crianças que em geral são muito passivas na infância sofrem com déficits comportamentais (Gomide, 2006, p.28).
Estudos realizados com jovens integrantes de galeras da periferia dos municípios de Brasília constataram que o não envolvimento dos pais, reflete em um sentimento de desamparo e despreparo para enfrentar os problemas dessa nossa sociedade, ao mesmo tempo excludente e em mudança, que não lhes oferece opções de protagonismo (Abramouay, 2002, p.104).
Fatores como falta de coesão familiar e falta de envolvimento da família em atividades sociais podem envolver três práticas parentais que podem levar ao medo social: preocupação dos pais em relação à opinião dos outros, isolamento da criança por parte dos pais e falta de sociabilidade familiar (Gomide, 2006, p.29).
A falta de calor emocional, característicos da prática negligente e a superproteção também estão associados com o desenvolvimento de ansiedade social. O primeiro se caracteriza pela não aceitação, e pela indisponibilidade de atenção dos pais, o que leva a uma diminuição da auto-estima e a um aumento da ansiedade social. O segundo se dá quando os pais impedem o desenvolvimento da autonomia de seus filhos ou isolam os mesmos de experiências ambientais. Estudos demonstraram que fóbicos sociais consideram seus pais como superprotetores e faltosos de calor emocional (Gomide, 2006, p.29).
Abramouay (2002, p.104), ao tratar sobre o desenvolvimento de sociopatas, afirma que as mães autoritárias, que não prestam atenção à personalidade do filho, provocariam neste a rejeição posterior à sociedade. Ou seja, eles transferem a mesma rejeição e descaso às normas sociais. Comparando fóbicos sociais com agorafóbicos, os primeiros alegam que suas mães evitavam com maior freqüência situações sociais.
De acordo com Gomide (2006, p.29), a ligação entre a carência afetiva e o crime está baseada na preposição de que a carência prejudica fortemente a capacidade de constituir relações afetivas com os outros. E isso leva ao desenvolvimento de comportamento infrator futuro, ou seja, o jovem que viveu em ambiente com carência ou ausência de relações afetivas consistentes poderá prejudicar o outro, sem remorsos.
Para Gomide (2006, p. 30) a vítima potencial é o indivíduo que representa o algoz do adolescente ou que, simplesmente, nada significa. Isso porque os vínculos afetivos que sequer foram desenvolvidos com os pais não poderão, portanto, ser generalizados para estranhos.

2.1.2.2. Punição Inconsistente
A punição inconsistente ocorre quando os pais punem ou reforçam os comportamentos de seus filhos de acordo com o seu bom humor, de forma incontigente ao comportamento da criança, ou seja, o estado emocional dos pais que determina as práticas educativas da criança e não as atitudes erradas da criança (Gomide, 2006, p.30).
Como conseqüência a criança aprende a discriminar o humor dos pais e não do ato praticado, se bom ou ruim, se adequado ou inadequado. Gomide (2006, p.31) afirma que ela passa então a agir de formas a evitar o aborrecimento dos pais, fugindo e se esquivando de casa, e neste caminhada fica mais fácil a associação a grupos desviantes.
De acordo com Helen Bee (1996, p.375) a punição mais efetiva, aquela que produz mudanças a longo prazo no comportamento da criança sem efeitos colaterais indesejados ou negativos é aquela aplicada no início de alguma seqüência de mau comportamento, com nível mais baixo de emoção possível e o nível mais brando de punição possível.
Assim, a punição deve ocorre logo após a criança apresentar um mau comportamento, para que haja a compreensão de que a punição não se deve a uma atitude pessoal, mas sim, ao comportamento de não deve ser mantido. Tudo isso irá ter melhor efeito se o progenitor também for carinhoso, claro a respeitos das regras, e consistente (Bee, 1996, p.375).
A consistência das regras é fundamental para que haja essa relação, deixar claro para a criança quais são as regras, quais são as conseqüências de desobedecê-las, ou obedecê-las, e depois fazer cumprir as regras de maneira consistente. Alguns pais são claros e consistentes; outros se perdem em discussões ou são vagos em relação ao que é esperado ou tolerado (Gomide, p. 30, 2006).
Estudos sobre famílias mostram que os pais que são claros e consistentes têm filhos menos desafiadores ou desobedientes (Bee, 1996, p.376), também são mais consistentes e seguras de si mesmas e menos agressivas.

2.1.2.3. Monitoria Negativa
Em oposição a monitoria positiva, a monitoria negativa refere-se as tentativas de controle que inibem ou interferem no desenvolvimento de independência e auto-direcionamento da criança pelo fato de manter uma dependência emocional dos pais (Gomide, 2008, p.23).
Para Gomide (2006, p.24), a monitoria negativa, também chamada de supervisão estressante, caracteriza-se por fiscalização e ordens excessivas dadas aos filhos que, em sua maioria, não são obedecidas e que geram uma relação pais-filhos baseada em hostilidade, insegurança e dissimulações. Os filhos podem fazer uso de comportamentos agressivos para proteger dos pais sua privacidade.
Os filhos ficam irritados e se sentem prejudicados pela falta de confiança dos pais, e os pais geralmente mostram-se ansiosos e frustrados com a tarefa educativa. Os pais que fazem este tipo de supervisão estressante não estabelecem regras, mas sim ficam repetindo ordens (Gomide, 2008, p.44).
Gomide (2006, p.24) afirma que reconhecer que este tipo de prática e as situações conflituosas que ela causa, é o primeiro passo para mudanças; depois entender que este tipo de disciplina não traz bons resultados, não ensina regras e prejudica a comunicação na família, e em alguns casos, os pais devem buscar ajuda profissional.

2.1.2.4. Disciplina Relaxada
A disciplina relaxada é caracterizada por Gomide (2006, p.21), pelo não cumprimento de regras estabelecidas. Os pais estabelecem regras, ameaçam e, quando se confrontam com comportamentos opositores e agressivos dos filhos, abrem mão de seu papel educativo, se omitem não fazendo valer as regras.
De acordo com Içami Tiba (2002, p.47) a atitude omissa dos pais permite a criança fazer tudo o que quiser, ou a exploração diante de qualquer deslize do filho, além de não educar, distorcem a personalidade infantil, tornando a criança sem limites ou reprimida. No futuro ela poderá se revoltar quando for contrariada ou tiver força suficiente para se rebelar contra o opressor.
Para Tiba (2002, p.47), a criança ou adolescente desobedece por falta de hábito, por perceber insegurança e inconsistência dos pais no estabelecimento de regras, pois quando estas existem, são muito variáveis, fazendo com que não se possa esperar um comportamento adequado destes.
Tiba (2002, p.224) nos alerta que “a incoerência, a insegurança e a inconstância são venenos mortais para a boa educação. Dão margem a que as crianças não assumam as responsabilidades e queiram impor suas vontades independentemente de conseqüências ou danos produzidos a terceiros”.
A mais recente revisão do DSM-IV afirma que o comportamento opositor e desafiador durante a infância é um antecedente do desenvolvimento de condutas de desordem durante a adolescência. Isso é confirmado através de uma variedade de estudos longitudinais mostrando que a criança que é agressiva e desobediente durante o início da escolaridade está sob o risco de séria delinqüência durante a adolescência (Gomide, 2006, p.21).
Falhas por parte dos pais em estabelecer práticas de disciplina e monitoria podem levar ao comportamento anti-social, assim como a disciplina severa. As conseqüências de uma precária monitoria mais encontradas na literatura estão: baixa freqüência de uso de preservativos ou outro contraceptivo em relações sexuais, multiplicidade de parceiros sexuais, uso de maconha e álcool, experiência de ter sido preso e maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis (Gomide, 2006, p.23).

2.1.2.5. Abuso físico
Gomide (2006, p. 17), faz uma distinção entre punição corporal e abuso físico. A punição corporal seria o uso de uma força física com a intenção de fazer a criança sentir dor, mas não ser machucada, como propósito de corrigir ou controlar o comportamento da mesma; Já o abuso físico é o resultado potencial da punição corporal, caracterizado pelo socar, espancar, chutar, morder, queimar, sacudir ou por simplesmente machucar a criança.
A punição corporal e o abuso físico de acordo com Gomide (2006, 17), são dois pontos em contínuo, sendo que, quando a punição é administrada de forma muito severa, freqüentemente ela atravessa a linha para o abuso físico. Pais abusivos relembram que começaram com punição corporal instrumental.
No aspecto psíquico e social, as crianças podem apresentar baixa auto-estima, problemas de comportamento e incapacidade de fazer amigos. Pesquisas demonstram que crianças e adolescentes com baixa auto-estima procuram as drogas e grupos delinqüentes, onde mediante comportamentos anti-sociais, infracionais e proibidos consegue a aprovação dos companheiros e melhorar sua auto-estima (Gomide, 2008, 34).
Gomide (2006, p.19) descreve um estudo longitudinal onde pesquisadores acompanharam sujeitos dos oito aos trinta anos, concluíram que crianças rejeitadas que não se identificaram com os pais e foram severamente punidas aprenderam a usar a agressão como alternativa para se expressar e quanto mais severamente as meninas eram punidas, mais abusivas com seus filhos se tornavam. Estes dados apóiam a hipótese da transmissão intergeracional da violência.
Outros estudos enfatizam que nem todas as crianças expostas a fatores disfuncionais tornam-se crianças anti-sociais. Gomide (2006, p.20), estudaram 942 crianças do nascimento aos 15 anos e identificaram que algumas cresceram em lares com sérios problemas disfuncionais, mas, no entanto, não exibiram problemas comportamentais na adolescência.
A explicação possível encontrada para este foi: a) a criança resiliente ser exposta a vários fatores protetores; b) a criança expressa outros problemas como atividade sexual precoce, uso de drogas, desordem de conduta, contato policial, não medido neste estudo. Também relataram que a prática parental violenta está diretamente relacionada com várias síndromes infantil, como distúrbios psiquiátricos que podem levar ao comportamento criminoso mais tarde (Gomide, 2006, p.20).


REFERÊNCIAS
Abramouay, Miriam (2002). Gangues, galeras e rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. Rio de Janeiro: Garamond.
Bee, Hellen (1996). A criança em desenvolvimento (2. ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Gomide, Paula Inês Cunha (2008). Pais presentes, pais ausentes. Petrópolis: Vozes.
Gomide, Paula Inês Cunha (2008). Inventário de estilos parentais. Petrópolis: Vozes.
Kliksberg, Bernardo (2003). Falácias e mitos do desenvolvimento social (2.ed.) São Paulo: Cortez.
Newcombe, Nora (1999). Desenvolvimento infantil: abordagem de Mussem. (8.ed.). Porto Alegre: Artes médicas.
Tiba, Içami (2002). Quem ama, educa. São Paulo: Editora Gente.

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